domingo, 12 de dezembro de 2010

Ela era uma só. Não havia outra e se quisesse compará-la com alguma coisa, seria com os tenros cogumelos dos bosques ou com as manhãs de bicicleta nas estradas impecáveis ou com as primeiras cerejas da primavera.

Helga - Antes do Baile Verde.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Adeus ao remetente


"Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções."


Algumas horas se passaram e ainda assim consigo ouvir claramente a tônica do seu ultimo argumento. Falado de um jeito como se o meu crime fosse um pecado tão imperdoável e superior aos seus. Ao mesmo tempo em que não aceita meu sacrifício a liberdade em nome de um suposto amor dispendioso. Como se tudo o que eu fizesse fosse por uma pretensão enorme em querer que as coisas saíssem do meu jeito, na minha hora e sem muita paciência. E sim, não é fácil. Nem tão difícil quanto colocas. Porém uma coisa é certa: não há argumento na vida que destrua a verdade que hoje se tornou tão constante em nossas vidas, somos errantes e apaixonados... Desde quando amanhecem todos os dias!


As escolhas nem sempre refletem o que pensamos ou sentimos, mas são fatores que podem mudar nossas vidas de lugar por tempo indeterminado. Com isso se aprende que quando tomamos uma decisão, seja ela pensada, forçada ou não, poder-se-á causar danos permanentes e irreversíveis. Não é uma regra errar nas escolhas quando somos tomados pelo coração, agimos pela emoção ou por qualquer sentimento que tome frente. Mas é quase um fato. Por isso, acredito que quando alguém escreveu que o sofrimento é opcional, esqueceu de acrescentar que ele também é passional, ainda mais quando se refere ao amor, e o que está ligado a ele.


Um dia desses, quando renunciei a esse blog, queria ter destruído todas as provas do passado que ainda insiste em sobreviver e assombrar. Pensar que ontem não foi melhor e nem faria mais parte da minha história de hoje em diante. Mas, (e sempre tem um mas), só fiz com que isso não se tornasse mais público ou mais evidente... Embora dentro de mim tudo estivesse tão claro, tão vivo e tão marcado. Durante esse período de silêncio refleti sobre o significado dessas páginas e qual era mesmo a finalidade disso aqui. Também nunca entendi o porquê de sempre citar você em qualquer parte. O porquê de te fazer sempre a personagem principal e o leitor mais assíduo. Como se fosse ou como se lesse... Ou como se eu dependesse suplicadamente por tudo isso. E, nossa! Você não merece uma letra minúscula, quanto mais um texto, um trecho ou uma frase minha. Uma relação sem pele, sem motivo, sem nexo e sem amor... não tem necessidade de ser, de acontecer, não é mesmo?

...

O que me resta é aceitar e, definitivamente fazer com que essas referências sejam as ultimas, não só aqui, mas em qualquer lugar que eu me manifestar e existir.


Sem mais.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


I'd never sing of love if it does not exist...


quinta-feira, 8 de julho de 2010




- Deus, você caminha nas reentrâncias do tempo, está infinitamente distante e infinitamente próximo, mas sei que seus olhos me espreitam. Permita-me captar seus sentimentos. Obrigada por mais um show nessa surpreendente existência.
(O Vendedor de Sonhos)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O amor em terceira pessoa

"Porque deixar de amar assim não é normal. Não se desama dando um mero tchau."

O nome dele na lista de contatos estava como NÃO ATENDER, e era pra respeitar essa regra que ela mesma impôs. Era pra simplesmente não atender! Era pra ela saber que jamais, em hipótese alguma, em qualquer lugar do mundo, haveria de atendê-lo. Como se fosse alguma notícia ruim, um cobrador ignorante, ou algum prisioneiro fazendo graça. Mas, depois de longas horas meditando se deveria ou não retornar, lhe fraudou, pois sua consciência já não apitava nenhum impedimento. Ela: – Oi, você me ligou?

- Liguei. E você esqueceu-se de mim?
- Por que me ligou?
- Porque me deu vontade, eu tenho saudade.
- Saudade? Estranho...
- Nossa, você tá tão rude!
- Queria que eu te tratasse como? Uma semana atrás, você desligou na minha cara, ficou todo nervosinho, e antes disse que me ligaria no outro dia. Quer que esteja numa boa?
- Você endoidou?
- Só não tenho tempo pros seus ataquezinhos.
...
- Como você está?
- Bem.. e sua vida, como anda?
- Tudo igual.
...
- Só queria te pedir desculpas por não me atentar aos detalhes que são tão importantes pra você.
- Tá. Você me ama?
- Você me ama?
- Perguntei primeiro!
- Responde você!
- Não sei, não consigo..
- Eu também não.
- Então não ama!
- Acho que.. - Está gostando, ficando ou curtindo outro?
- Quê?!
- Sei lá, se estiver eu vou ficar feliz, porque a gente tá longe...
- Olha, você sabe que descuidou, pensou que toda vez que te desse na telha ia me ligar e a idiota aqui ia dizer que ainda te amava. Mas tudo muda, as pessoas mudam... Os sentimentos mudam.
- Então você gosta de outro.
-... Sim! (Choro) E eu não queria, mas você não fez nada pra não ser assim, não me deu escolhas.
- Como é esse cara?
- Torto! Todo torto, todo errado. Totalmente diferente de você.
- Você não merece ele.
- Mas quando a gente abre a porta pra uma pessoa entrar, qualquer uma entra!
...
- Pra ser sincero, eu também estava apaixonado e só não te contei porque eu tinha pena, pois eu achava que você ainda gostava de mim...
- Não quero ouvir! Tchau.
- Agora me ouve, eu deixei você falar... quero te falar a verdade também!
- Não, eu não quero ouvir porque eu sei que é mentira, e me poupe da sua pena.

-Ow, com você não dá!
- Nem com você.

A distância não denota falta de amor. Mas a ausência sim. A falta de interesse, de comunicação, de apetite, e de confiança. A falta contradiz qualquer ventura do amor. Dizer que ama não implica em realmente amar. Essa certeza explica por si só. Ele pensava saber tudo sobre ela. Mas a verdade é que o que ele não sabe sobre ela daria um livro enorme e completo. Ela às vezes sentia dificuldade de respirar. Não queria incutir na sua cabeça o milagre do novo amor, de um recomeço, de um ponto final. Ela nunca foi tão feliz. Nunca gostou de justificar suas mentiras, mas se mentiu foi por proteção. Porque é fato: só protegemos quem amamos. Gastou todas as suas palavras, frases e pontos escrevendo sobre a tormenta que ele causava a ela. Sobre todas as vezes que seu coração palpitava de prazer por perceber seu cheiro. O reboliço no organismo. A dor psicológica.

Não foi culpa dele. E não adianta culpar o acaso, as circunstancias, e o outro. A culpa é do tempo, que nunca dá trégua, que não cura as feridas, mas cicatriza a todas. O tempo é o agente do afastamento, do desligamento, do desamor. É incansável, inquieto e sabe quando a necessidade da satisfação fatalmente provocará a separação.

Mas ele ainda busca resposta e sua vida está uma merda. Acredita que daqui a dez anos ele a encontrará e os dois viverão eternamente, como se fosse sina. Acredita que foram feitos um para o outro pois apenas ela consegue distorcer seus sentidos, enchê-lo de saudade e satisfazer suas lombrigas. Seu amor por ela não é mais identificável. Contudo, alguém botou um ponto final e retirou aquela amarga vírgula. Alguém ouviu sua súplica ou a dela. Mas, em algum canto da memória ele há de guardar todos os seus beijos, e sua pele cor de sereia. O cheiro do seu corpo e seu maldito gosto por los hermanos. Seu sonho de grinalda, e de algum dos quatro filhos ter os olhos da cor dos seus.

Ele e ela. Sempre os dois.
Sempre indispensáveis em ambas as vidas. E é triste ter de ser eu a narrar este ultimo capítulo. Embora eu não acredite nesse fim, eles fizeram assim. Não foi eu que inventei essa história, e como uma mera expectadora, torço pra que ele acredite nessa mentira para que suas vidas rumam o caminho certo e escrevam suas próprias histórias. Que ela não viva essa mentira, mas que transforme-a em verdade. Que parem de viver e depender do suposto amor do outro. Que cessem todas as lágrimas. Que não sejam mais escravos das duras e doces lembranças. E que seja feita essa vontade.
Hoje, eu fecho esse livro, mas sei que um dia alguém contará essa história. Sentirá seu coração arder como se estivesse vivendo-a e suspirará quando terminar falando que ela sempre o amou e que ele nunca a esqueceu.

domingo, 20 de junho de 2010

Enquanto isso, a paixão me distrai..

Tudo parece estar em divina ordem. Do jeito que planejei, ou melhor, do jeito que pedi. Nada a mais do que o exato esperado. Da calmaria e da serenidade desejadas. É bom que eu confesse que o que escrevo aqui, embora seja algo real e interiorizado, é bem próprio do momento, da leitura, da escrita. Ou seja, não penso nisso a todo o momento, e talvez eu nem viva o que realmente dito a toda hora. Tem muito mais nisso, ou menos do que se mostra. Há um exagero quando demonstro estar desiludida e perdidamente apaixonada por um ser que me esnoba e ignora tudo o que pra mim tem um gigantíssimo valor. E é constante a diminuição que me faço toda vez que expresso os sentimentos considerando que são inúteis perante essa minha forma de amar. A forma que encontrei pra mim. A forma que se desencontrou de mim.

Quando o coloco em meus sonhos, estou puramente me punindo por guardar tanto engasgue aqui na garganta. Serei então uma eterna covarde, pois não há ilusão maior e mais excitante do que é transmitida num sonho. Há quem diga que coleciono homens errados e faço confusão dos certos. Se ele fosse uma peça para se colecionar, não seria a das mais raras, porém a mais delicada de todas. Pois todo cuidado com ele é pouco, sendo que o autoflagelo já nem existe mais.

Continuamente penso nos meus ideais. Daquilo que quero pra mim, do que espero de mim. Nunca fui de planejar, nem de me prender a desejos repentinos ou estimulados por outros. E isso não inclui nenhuma paixonite, namorico ou bitoquita. É que sem perceber elas simplesmente acontecem. De repente a idéia do namoro sério, de estar com alguém e simplesmente planejar o casamento dos sonhos aparece... E toma conta de todo resto de senso que te sobra. Mas não toma o lugar dos teus reais objetivos, excluindo então esse pensamento duplo, gerando o mais egoísta de todos: Se realizar.

Só sei que quando o via o mundo parava de girar, ou girava em tempo menor, ou rodava em velocidade excedida... Não sei. O que eu sei é que perdia o ar, o movimento e as palavras. Perdia-me. E que todos devem estar cansados de saber isso, inclusive eu. Esse acúmulo de sentimento cresce e se penetra de uma maneira tão fria no meu ponto mais sensível. Os pés, apesar de saberem o caminho estão viciados em praticar algumas rotas em círculos. As mãos estão preocupadas a todo instante, e com mania de tapar os olhos. São sentimentos mal-resolvidos, com forte perspectiva romântica e uma tendência incrível de se concretizar em amor. O que me dá medo porque o meu ideal é me apaixonar sem me prender, sem assustar, sem viciar. Por enquanto eu vou no embalo e fico nessa minha respeitável espera pela outra etapa, onde eu saberei, finalmente, outra vez, o que é amar.

terça-feira, 15 de junho de 2010

E nesse tempo houve de tudo...

Não, não houve muito tempo.
Minhas últimas semanas foram as mais demoradas e tensas do ano. Acordava quase que todos os dias com a sensação da corda no pescoço. Na vontade de me anestesiar com qualquer coisa em que eu pudesse ver solução imediata, e perdurada. Com qualquer anfetamina que me cegasse por algumas horas. Sem nenhuma falação quando eu estivesse mofada no quarto com os fones de ouvidos a toda. Uma vontade de vomitar os deveres, repelir as tarefas ou simplesmente calar as pressões. A vontade de escapar por baixo, sem que ninguém me visse. Mas eu vacilo comigo mesma, pois minhas vontades e planos não passam de palavras que me motivam e não se ativam nunca. E só pra me ajudar, fui obrigada a ouvir as palavras mais inconvenientes, ao mesmo tempo tocantes, num tom menos ameno possível. “Você acha que se guarda se trancando no quarto, fingindo um tempo para os estudos... para de fingir estar em reclusão, e cresça!” Pronto. Depois dessa flechada no meu ego, só parei e fiquei. Senti-me toda esquisita e vivendo um período farsante. Parecia uma transição de fases, do tipo, já não sou mais uma criança, uma menina, uma normal. Do tipo, o que está acontecendo comigo? Onde eu quero chegar, ou, por que quero tanto parar? Afundei-me numa cova de dúvidas, numa caixa de serviços intermináveis, voltando com tudo ao meu espírito adolescente.

E nesse tempo houve de tudo. Voltei a tumultuar a casa com meus gritos ardidos, cantando alto no banheiro, tirando uma nota no teclado e som no violão. Abasteci as plantas da chácara sem achar aquilo chato, ou parado. E a poeira nem me irritou mais. Vesti a calça e as botas. A temperatura interna era bem menor que a de fora. Revi meus amigos. Revivi o passado, e sim de uma forma imensamente melhor, só não me pergunte como. E a vibração do show foi tão prazerosa quanto a ressaca após ele. Também tentei arrancar violentamente aquele sentimento enraizado aqui (pois o número de tentativas não desqualifica o ato, né?) por isso, tentei. Não critiquei mais o dia dos namorados, apenas aproveitei meu sábado. Fechei o semestre com notas boas e na raspa. Tomei coragem e não te liguei. Sonhei com você de novo, e dessa vez não acordei ansiosa pra te ver a noite. Concordei com aquela amizade do ônibus. Te respeitei quando com um olhar me disse que passava dos limites. Tanto eu fiz que... que enfim. Estou sempre fugindo do que é difícil, complicado ou contrário. E sempre na dúvida quando tudo que existe é dividido em dois. Resolvi escolher por ver a vida que se passa fora do meu quarto. E assim me atrever a fazer o que mais me pesa, no que mais me cega, onde mais eu peco. Sem fugir ou me esquivar de nada, como aquelas palavras quiseram me dizer. Bom, não sei quantos centímetros, mas acho que cresci. Nessas semanas eu evolui.

Passei a entender que, os sentimentos são só ferramentas de retórica de uma das vozes do seu cérebro durante uma discussão interna sobre qual caminho seguir numa bifurcação.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Minha gratidão tem nome

O que eu queria mesmo dizer é outra parte de mim, e já é dito de outra pessoa.


Toda vez que me esprimo há caldo de sobra.
Todos esses anos enxuguei os mais vivos momentos pra dentro do meu íntimo. Me arrisco em dizer que o melhor do que passei ainda não está por vir, mas do que já me aconteceu é de bom tamanho. Ontem, por um momento, notei que havia silêncio a ponto de ouvir somente os ponteiros do relógio em sua imposta missão misturados ao ruído dos meus céleres pensamentos. Do meu quarto ouço automóveis e caminhões na rodovia, e claro, sem distingui-los. E não há mais rota de avião, como já houve. Então percebo que algo mudou. Lógico! A todo instante muda, têm noção?

Enquanto me extraio, posso lembrar do clima frio e estagnado de outrora. De quando vivia o colegial sem me dar conta de que o levaria pos alguns anos a frente, ou até pela vida toda.. quem dirá que não? Consigo recriar imagens velhas, sentir o cheiro que aquilo tinha, e refazer o ambiente com a ocasião. Éramos amigos insolúveis. Tínhamos uma adolescência em contratempo. Sonhávamos além do que sabíamos. Exigiam-nos bem mais do que podíamos. Mas sobrevivemos a tudo, e me aventuro por dizer que ainda é insolúvel. Ah, que falta me faz essa época; a cor dos sorrisos, o sabor dos bilhetes, o descompromisso com a vida, o sonhar em forma de fantasia, e a amizade que todos os dias existia. É tão triste pensar que nos tornamos 'pessoas grandes', como dizia o principezinho, e que 'pessoas grandes são assim'. Têm necessidade de explicação, não são verdadeiramente compreensivas, e por vezes não te dão crédito dependendo da sua roupa. Hoje existe a distância, tanto de cidades quanto de escolhas que fizemos, e que as vezes é superada por recados periódicos no orkut, ou nem isso.

Tentei me enxugar ainda mais e vi que sou consumida por lembranças que merecem o total primor. Me vi correndo pelas ruas enquanto o céu desabava, sem me importar por molhar os livros e cadernos, ou ficar ensopada correndo o risco de pegar qualquer doencinha aguda. Me ouvi cantando no tom mais fino e no volume mais alto no meio da rua, em plena madrugada ou em qualquer volta pra casa, músicas que estão vivas até hoje dentro de nós. Me achei brincando nas águas claras do rio de sempre, refletindo o feliz sentimento exposto ao sol. Sinto os meus pelos se arrepiando só de pensar em tudo o que passamos, que na verdade não passou.. ficamos! Fico anestesiada só por lembrar de todos os pedacinhos que exploramos, os cantinhos que inauguramos, as piadinhas que inventamos, os gritos que arrancamos, e da alegria que tivemos.

Desculpem-me se eu os envolvi nisso. Talvez não fosse essa minha intenção, e sim de outro, que por pretensão ou acaso queria nos unir. Ainda que eu preze por minha liberdade, não quero me desprender de certas coisas. Pessoas, coisas não. Não há razão pra pressionarmos tudo, acontecerá naturalmente, de forma diferente. Nem há motivos pra chorar; se a amizade foi real e intensa, ela sempre volta. Forçar muitas vezes é um pecado! Por isso, não espero que todos os que são inesquecíveis pra mim voltem, mas que de alguma forma não me deixem. Nossas cenas, embora não intactas, ainda estão guardadas. Só há uma pausa solene entre elas, que a vida encarrega de fazer.

Sei que foi estranho, mas me justifico por ser tão insone.

Amigos,
obrigada pelas lembranças e noite não dormidas pensando nelas.
Sintam-se abraçados, apertados e mordidos de leve por mim, sempre.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Meia terça-feira

Adoro manhãs. Manhãs de sol escaldante ou de frio congelante. Manhãs com semi-roupas ou empacotada num moleton velho, de uma cor só, e embrulhada por dois edredons. Manhãs dormindo ou caminhando; sonhando ou trabalhando. Mas hoje é terça-feira, e acordei já era meia-manhã. O vento já havia dissipado as nuvens, e os passaros já estavam ensaiando o coro da manhã seguinte. Com os pés aquecidos pela pantufa, e o corpo frio mas protegido, fui até a cozinha... onde meu chá aguardava por mim. Me lembrei de uma entrevista de emprego que marquei na tarde passada pra hoje de manhã. Me limpei, me vesti, me perfumei e fui-me. Voltei pra casa achando que tudo "deu certo". Do jeito que pensei, ou mais. E continuo pensando assim!

Minha cama estava do jeito em que a deixei, e o livro na página certa. Comecei a ler de onde parei, e decidi lutar por ela ... Resolvi pensar em algo que silenciasse a dor dela, e que resolvesse sua saudade. Estava farta de achar que se estragou por quem não a merecia! De olhar aqueles olhos que sempre te faziam mal. Ele é um incauto. Não cuida! Se deixa... e por vezes te deixa. Ele sabe, folga, não leva a sério. Ela é inconsequente, não sabe e leva tudo ao pé da letra. Ele a quer por algumas horas. Ela o quer interminavelmente. A dor dele é um fragmento, a dela é generalizada. Ela sofre mais, tá na cara! Mas é ele que chora sempre. Que liga quase toda semana. Ela corre e ele a pega. Ele foge e ela o perde! Toda vez que ela o vê desgraça o seu lindo rebolado. Ele perde a vergonha ganhando seu espaço. O corpo dela fica inerte. Ela é sofrivelmente linda, e é isso que ele diz, mesmo não vocalizando nada. Se percebem num olhar. A respiração daquele ar louco e apaixonado embaçava o vidro do carro. Mas ela sabe que na manhã seguinte aquela noite expressiva ficará ardente em sua memória. E para ele não significará muita coisa, ou apenas nada.

Todos os dias ela acha que seus sentimentos relativo a ele são só provocações e impulsões. Os dele por ela são triviais e calados. Ela pensa que o coração dele é surdo, mas no final conclui que é somente mudo. Ele tem medo por ela ter tanta ousadia? Ou ele é covarde por ser tão insensível? Ela não sabe. Talvez se soubesse ela poderia apagá-lo do seu cerne. Nos recônditos ele abriga. Ainda. Que mal ela fez? Como eu gostaria de safar ela disso.

Ouvi minha mãe me chamar, e despertei -me desse cesto de dúvidas e incertezas. Quando já vi, passava-se do meio dia, e depois dessa hora proibi-me de pensar em qualquer coisa que não faça sentido. E quanto a ela? Ela é a questão, a pergunta e a resposta. É a intensidade, o desespero e a coragem. Ela é a dor, a briga, ou a palha. Ela sou eu, ou ele, ou nada. Contudo o que é importa é que Ela vive dentro de mim e dele, embora não saiba.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O amor que desatina e faz doer

Um vento frio acordou minha pele. Tive a sensação de ser acordada por alguém, mas não percebi nenhuma alma perto. Meticulosamente abri os olhos, e não era um sonho. Estava realmente respirando.

Não queria pensar sobre aquilo de novo. Estou ficando chata e repetitiva. Desordenando-me mais uma vez. Meus dias turvos voltaram. Horas intermináveis. Sua imagem me derruba. Respirar, ao invés de vida, me traz a dor. Não sei não mostrar ingratidão nessas horas. O meu mato estava seco, e mato seco é combustível. E é disso que me alimento. Das suas cenas, da sua voz, das suas frases. Ouço a canção mais triste. Aliás, qualquer ritmo ou qualquer nota se faz triste.

Não quero falar sobre aquilo de novo. Deploro-me sempre que preciso te responder. Fabrico uma lágrima a cada vez que me pergunta. Meus músculos faciais paralisam a todo minuto que te ouvem. Sou um exagero, toda vez que preciso te explicar. Sua voz sempre foi minha canção de ninar, e seu cheiro meu despertar. Sonhei com você me abraçando. Um abraço apertado, suado e forte. Posso te ver com olhos fechados. Seu olhar é como um tiro. Sabe meu gosto, conhece minha forma. Vimos o sol, a chuva; o seco o molhado. Que raiva! Meus dias turvos voltaram...

Não preciso reclamar sobre isso de novo. São desejos furtivos. A sua risada sempre funciona. Seu número em minha agenda é sempre recente. Seu tom é inconfundível. Algumas letras suas me machucam. As lembranças todas me cortam a carne. A qualquer estação do ano meu coração sente aquela dor familiar. Meu amor me barra. Prende. Sufoca. Seu amor me esgota. Tortura! Sou sua sombra, e você me persegue. Enquanto tentou me agradar, eu tentei me ajustar. Consegue ver em mim encantamento. Sabe chorar, ou atuar. Só quero gritar quando eu te vejo ou te imagino em alguma foto, em algum lugar, com qualquer pessoa.

O silêncio e o escuro me incitam. Já esteve com alguém, não disse nada, e saiu sentindo que teve a melhor conversa da vida? Sim, com você é profundamente sempre isso! Teve o pior e o melhor de mim, e não soube entender. Sabemos da vida um do outro; dos piores momentos, até das melhores situações. Desfruta da minha melhor qualidade, e se deita em meu maior calo. Derreto-me de saudade. Finjo não sentir a sua falta, e me distraio com sua ausência. Estamos tão cansados. Deus sabe! Não desejamos parar, mas os sentimentos martelam. Tudo é uma harmonia de erro, nada adequado ou certo. Acostumamos a isso. Distâncias geográficas não mandam em nada! Principalmente quando há sentimentos reticentes.

Morremos quando uma coisa boa acaba. Porém, não há como classificar se o que acontece é bom ou ruim, se acabou ou se é sempre um começo. Misturamos nossas histórias. Deliciamos do proibido. ‘Loucura? Talvez, mas não mais do que aquela que vivi’. A noite não se atrasa. E o que eu sei é que meu passado não morreu, e quase não dorme.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Conflitando e aprendendo

"Se sofreu uma injustiça, console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la." (Demócrito)

Quem disse que contar alguns segundos resolve a situação, esfria os nervos, ou arrefece o estouro que está prestes a acontecer?
No meu boletim escolar carrego algumas discussões, que por alguma injustiça, não medi esforços para evitar. Lembro-me de uma situação engraçada/trágica que envolveu a psicodinâmica toda mais meus adoráveis amigos, pais, e professora. Aconteceu lá no fundamental, onde tudo é legal. Minha sala de aula era composta por um time de futebol amador. Sem reservas, sem bandeirinhas, sem treinador. Uma menina, e os patrocinadores (pais). Éramos a ameaça. Agitávamos o terrorismo nos menores, fazíamos as meninas pagarem lanche, e os professores chorarem. Num lindo dia percebemos que nossos aviões de papel não tinham turbinas, que o giz molhado não funcionava, e que tudo estava perdendo a graça. Foi aí que começamos a ofender a mãe, em total reciprocidade. Usávamos a profissão delas junto com a nossa personalidade e criávamos apelidinhos lindos/horrendos. Muito pestes, e sempre inquietos, inventamos um pra tia, a professora de ciências. Essa não gostou e nos dedurou para os patrocinadores, que nos colocaram de castigo, que resultou em NADA... Reuniões foram feitas. Até que um dia, dois comparsas mais eu fomos expulsos da sala e metidos a ficar no corredor para refletir, logo após uma intensa e quente briga com a tia. Nada que envolvesse os apelidinhos, mas por uma simples injustiça da parte dela, em não querer repetir a explicação. Afirmando que, “entendendo você ou não, essa sala é um desgosto”. Declarando altamente ser uma fã de Goethe: Prefiro uma justiça a uma desordem. Ela não soube como controlar, e se não sabe manipular, é melhor que nem ordenes! Então, partimos para a agressão- a verbal – onde tínhamos doutorado. Talvez você esteja escandalizado com tamanha atrocidade marginal da nossa/minha parte. Mas nós soubemos na infância a lutar contra as injustiças. A aquecer momentos críticos com tamanha lista de argumentos. Sem ter que disfarçar que estamos certos, ou confessar que não fizemos errado. Criamos, dentro de nós, um ninho de confiança e liberdade. Não nos tornamos corruptos ou assassinos, mas infiéis a lei do julgamento, da crítica cons(des)trutiva. Um problema? Talvez, mas não maior do que vivemos. O que faltou entender é o porquê da existência de pessoas que estabelecem suposições sendo que sequer fazem juízo. O tal do preconceito, do julgar, do arremessar pedras. Quem não ajuda que não atrapalhe! Quem não dá a mão para ajudar alguém a subir, que pelo menos não desça o pé! Entre outros jargões. Sempre me ensinaram a questionar pelos meus atos. A olhar as atitudes dos outros e entender- compreender-ajusta-las. Se não for pra apresentar mudanças, não haverá razão em xingar! Ora, não estou tencionando que sou uma injustiçada e que mereço mimos e piedade por isso. Só estou exteriorizando esse sentimento que há aqui dentro e que não há espaço para enraizar. A questão não é interpelar a injustiça, ou querer a extinção dela, mas saber como fazê-la ou interpretá-la. Porque cometê-la, não há ser humano que não o faça. Minha intenção nunca foi ser um problema social, embora minha mãe tenha me alertado a isso. Não saberia conduzir greves, estimular protestos ou começar um abaixo-assinado. Mas sei polemizar. E há tempos fazer isso não era necessário. Tudo é uma questão de escolha e conseqüência. Da ação e relação, do falar ou o olhar, do entender e aprender. Independente de motivações, critérios estabelecidos, justiça mal resolvida. De provas mal corrigidas ou de crianças mal educadas. É apenas uma luta interna... ou você estraga tudo, ou você se cala!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Solidão


Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto.

SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa alma.

(Fátima Irene)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Solilóquio

(No céu do rio Paraná, 28/03/10. )
Há semanas eu ansiava por isso. Não sei se por tanto querer, ou por não saber ao certo se queria mesmo ou não. Tufões de ansiedade e medo. Sentimentos que inebriavam-me. Alguma coisa aqui perto me dizia que era distante que encontraria a paz. Então eu me hesitei. Só então me controlei...

Uma sorridente manhã de sábado. Malas repletas de roupas. Bolsas com perfumes, xampus e bolachas. Pausas estranhas para contemplar a preocupação de não esquecer nada. O grito de pressa da mãe. Os últimos retoques no rosto, no corpo e na pele. A despedida eterna por dois dias fora. O ônibus. O pessoal. A alegria. O tchau! Aquela bagunça cor de baunilha que não irritava nem o motorista. A voz gutural do meu irmão, companheiro de poltrona. A conversa fiada. O ressonar dos mais velhos. A estrada. As cidades de antes. O sol que me levou as lembranças. A música gritada lá atrás. A saudade comprimida. A vista do rio. A altura da ponte. A insígnia que caracterizou a chegada. A expectativa do momento. A surpresa que haveria. No começo alguém parecia uma inexorável imagem, que passaria disso para palhaço no fim. A entrega das camisetas. O recolher do tempo. A acomodação. A brincadeira. A dinâmica. A sintonia. A harmonia. A renúncia. O acampamento!

À noite, ainda ouvi algum cantar de pássaro. Um cantar de grupo. Uma cantada de alguém... O lanche que satisfez, a brincadeira divertida que cansou, a música que cessou. A lua, o mato, o rio. A oração, novamente uma canção. O balanço, que me fez venerar, ainda mais, a gravidade. A garoa que vi que tocou, que nos molhou. O toque de recolher, apenas recolher... Porque dormir, NÃO FOI O CASO! Um monte de besteiras ditas sem pensar. Flores jogadas pela janela. O tempo que passava pela quantidade de palavra traduzida. A música, o sono, o sonho... Quem deu aquela buzina de gás na mão dele? O tendo que acordar e tendo que sorrir na hora que o galo nem pensava em cantar! Fingir que dormimos. Disfarçar as olheiras. Comer, beber e aproveitar!

Aspirei à paz. Aquela que, um dia atrás, alguém professou que encontraria. E então, descobri que família é uma benção, e abrange muito mais que fitas de DNA iguais. E aprendi que meus dias podem se encher de flores, de cheiros e de amores se eu assim permitir. Que a areia fina também combina com peixes de água doce, e que há transparências nos rios. Que perco gramas caminhando por elas. A sensação de soltar balões é coisa fina. Que muitas pessoas junto não significa multidão; e poucas junto não é solidão. Que há Deus nas pessoas, nos abraços e nas palavras. E que é forte! E que a saudade pode estar comprimida, mas não desaparecida. E que é impossível manter-se alegre, feliz e cantante...

Na direção do azul, é lá que olho e vem de lá o que sinto!

sábado, 20 de março de 2010

Por outra estação

O amor vem vindo...
cuide-se, você pode ser atropelado!

Alguém que ama não conhece limites.
Não sabe quando começou, nem porque terminou, nem porque há tanto amor.
O ser humano se entrega, flutua, e passa a bloquear outros sentidos. Ama demais! Anda suspirando, e com sensações de que tal amor o leva até as nuvens.
Eu falo de amor.

A chegada é sempre mais lenta que a partida.
Chega exatamente quando uma porta se fecha, quando o coração se distrai, quando há uma zona de sentimentos no ar. Quando nada impede de amar.
O amor sem querer ser é intruso. É revoltante querer entendê-lo, sendo que sequer possa senti-lo. É um processo cheio das melhores sensações de prazer universais. Seja pela carência ou excesso, confusão ou retrocesso, o amor acaba. Ou esfria. Simplesmente passa...

E aí eu idealizo o relacionamento passado. Não evito qualquer contato. Um pseudo-amor inacabado. Detalhes que foram desperdiçados. Sorrisos que se inverteram. Suspiros que se esfarelaram. Palavras mal-pensadas. Corações despedaçados! E sofro exagerado!

A partida ligeiramente parte, fragmenta tudo!
Já é sabido que mulheres não têm mistério algum. Codificamos o que queremos dizer, mas há aqueles que sabem perfeitamente o que queremos falar. E quando dizemos “será melhor para nós dois”, estamos assinando o termo de compromisso do final supremo de uma relação. E os homens não! Eles tomam atitudes rápidas demais, ou não. Usam termos simples, mentirosos, e desoladores. Não suportam ver seu orgulho ferido. Com essas atitudes repentinas, muitos homens se arrependem! Não tem volta, mesmo! E sofrem, choram, ligam.

De repente, se encontra a mais doce satisfação em ouvir aquela voz. Quando você pensa que está indo, inevitavelmente, está voltando milhas; o desamor causa estragos, e feridas que demoram a cicatrizarem. Então, tudo não passa de um processo lento e dolorido. Vai por mim, não adianta resmungar, espernear, gritar ou xingar. Isso, é claro, te trará um prazer absoluto e momentâneo, mas o normal é que espere o tempo molhar... E secar!

Para alguns pode ser que eu esteja misturando o sentimento mais nobre com o mais insano e louco de todos. Outros dirão que sou completamente confusa e só sei complicar o fácil. Para mim, embora calejada, demonstro moralmente minha total ‘incompetência, quando o assunto é amor’.

Somos invariavelmente atraídos e sentimos melhor junto de pessoas que comungam de nossos valores, nossas crenças e convicções. O amor não é cego. Mas pode ser exigente demais. Pois aí, quando atravesso a rua e me assusto com alguém buzinando pra mim, ou quando me afogo as magoas assistindo aquele filme que me fez chorar toda vez, ou quando, na hora que preciso dormir, me tento a escrever, pensar ou ligar, é que eu consigo lembrar o quanto minha vida amorosa é triste. Exijo-me demais. Quem sabe no outono, tudo não melhore, e eu encontre a sorte.

Enfim.
Não pense que num “é melhor assim, para os dois” não haja mais do que se possa imaginar.

“Se sentir saudade, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!”

segunda-feira, 8 de março de 2010

Pare com isso e Arrume tudo!

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Esses dias de mudança mexeram muito comigo, pra não dizer que me estragaram. Eu me senti volúvel demais, instável demais e estranha demais. Como foi tudo muito rápido, alguns lances me passaram despercebidos, o que eu lamento ter acontecido. O meu quarto, que sempre foi meu escritório, meu apartamento, meu lugar seguro, meu diário secreto, minha deliciosa bagunça, meu íntimo, passou a ser simplesmente um quarto sujo, sem ordem e silencioso.
Em casa, minha cabeça pifava e sorte que as aulas começaram. A companhia de alguém familiar que esteve sempre perto por esses dias, me confundia ainda mais. Tudo estava tão vazio quanto a sala do meio. Meu coração entoava ecos de uma lembrança esquecida. Não via cor nas paredes, nem graça no jardim. As molduras ficavam tortas, haviam ratos atrás das portas, e na pia algumas baratas mortas. (não era pra rimar, mesmo!). Eu só queria gritar, e saber me organizar. Não demoraria uma semana pra eu me acostumar, ou talvez me situar. Mas eu estava desgastada, e a mudança me estragou.

Me lembro de quando era criança e que mamãe me acordava para assistir meus desenhos preferidos. Acordava disposta, e como numa rotina, louca para assisti-los. Não me apressava em escovar os dentes, nem me importava com remelas. Os desenhos matinais pareciam mais calmos, como se dessem bom-dia num tom engraçadinho. A tarde tinham uns bem rurais, que eu os acompanhava com uma mamadeira, ou chupeta e fralda. Antes de dormir assistia alguns programas infantis, supereducativos, e que me inspiravam alguma invenção no dia seguinte. Evidente que eu não saberia que aquele meu contentamento e prazer que vinham com desenhos “bobinhos”, me fariam falta hoje... ou que seriam substituidos por outros tipos. Arrume tudo e Pare com isso é, sem dúvida, o desenho mais ditador. É como se a voz da sua mãe estivesse por trás, subliminarmente. Cada um dos personagens tem o nome de uma bronca, veja que máximo: Lave seu rosto, Brinque lá fora, Fique calmo, Agora não e o mais legal de todos Eu disse não, dentre outros. E por mais que a arte e os efeitos sonoros fossem bons e por uma causa nobre, eu só queria que o desenho acabasse o mais rápido.

Na Tv a cabo passa um programa que se chama Cada coisa em seu lugar, que eu me recuso a assistir novamente. Mas, um dos espisódios uma mulher precisava se livrar da maioria dos seus móveis e trecos que só enfeiavam e sujavam o aspecto da casa. Uma mulher triste e desesperançosa. O roteiro do programa é quase igual a todos desse tipo, embora algo muito interessante me chamou a atenção. Quando ela estava prestes a ficar uns dias viajando para que o pessoal pudesse organizar sua casa e colocar móveis novos que puderam comprar com a venda dos seus antigos, ela virou para apresentadora e disse: “Estou me livrando de um pedaço empoeirado da minha vida.” Não era só do desgaste dos móveis, da bagunça de todos os cômodos, ou da poeira nas roupas que ela estava falando. Era de um pedaço que só ela exergava. Como se o aspirador pudesse passar pela sua vida e tirar todas as impurezas. O recomeço. Um outro olhar, um novo astral. Uma imensa limpeza de casa e alma.

Houve uma briga de sentimentos dentro de mim.

Depois de 5 dias consegui arrumar meu quarto. “Oh, quanta porquice”. Não, não é isso. Era só uma questão de pendências a resolver, e alma para lavar. Botei colcha nova, joguei sapatos fora, dobrei minhas roupas, limpei meus livros e passei veneno. Tomei coragem e pude ver a real imagem do meu íntimo. De repente eu estava me abrindo com quem eu nunca vi mais gordo; Ouvindo aquela música que eu prometi nunca mais ouvir, e sem chorar; Tocando texturas da parede velha e achando o máximo. Neutralizando odores naturais das plantas do jardim; Vendo novos desenhos e tentando não rir com malícia; E sentando no chão frio do meu quarto outra vez! Me acostumando, me acomodando. Convivendo, e aprendendo.

Fernandinho Pessoa para fechar:

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Desejo comedido

' Ignorar os fatos não muda a importância deles. (Shakespeare)


Vontades efêmeras. Na redundância, já tive diversas. Daquelas que repentinamente surgem, e do mesmo modo desaparecem. Algumas que incendiaram ainda mais o meu espírito instintivo e outras que, influenciadas pelas tais circunstâncias e clima, me desanimavam fácil. Já tive vontade de jogar tudo ‘pros ares’, de mandar gente pro espaço, e de chutar baldes. Como já me deu vontade de parar com tudo, seguir outro rumo, e fazer o que era feito antes. Vontades. Potencializar desejos. Pensar em satisfazer a carne. Surpreender a expectativa. Avançar na espera. Tomar iniciativas, ou simplesmente tê-las.

As vontades não nos dão direito de escolher, já repararam? O desejo quando aparece independe do que é certo ou errado, do que é sensato ou banal, do possível ou não. É louco. A meu ver parece normal, mas não é! Aquilo que te deixa cego, que te faz romper barreiras, que te faz perder o domínio, e que te enlouquece... Sei lá, pode até ser normal então, mas não parece. Seriam doiduras do inconsciente? Pode ser que as vontades efêmeras nem sempre sejam malucas e inconseqüentes, mas provocam alguns danos quando elas passam. Provocam, pois: quando queremos fazer alguma coisa e que logo passa é porque vimos alguma barreira, um cisco que seja, mas que nos atrapalha e impede de concretizar tal vontade. E daí a perda de equilíbrio em muitos casos.

Veja, não tenho a pretensão de fazer um artigo, expor uma conclusão, ou te fazer refletir sobre o que são vontades, seus efeitos e blá. Não! Mas acho legal me expressar daquilo que me impõe às vezes. Minhas vontades, e a não realização das mesmas. Nada de aprofundamento, só um entendimento... básico!

No ano que passou aprendi algumas coisas. Algumas que me fizeram estabelecer critérios em determinados assuntos e por limites em certos relacionamentos; outras coisas que não vão servir pra nada, talvez como meras experiências, vagas lembranças e só.
Uma das coisas que aprendi, e que cabe aqui, é que orgulho é diferente de arrogância, e ambos são diferentes do self-respect. O tal do amor-próprio. Vesti pra mim, e tentei vestir em outro, mas o tamanho da culpa as vezes excede o da carapuça. Mas nada que me tire a calma.
Aprendi que a capacidade de alguns em manobrar situações ou pessoas nem sempre é um dom adquirido por todos. E que eu, definitivamente, não sei fazer isso. Mas isso não é uma maneira de me depreciar, acredito que não.

Também aprendi que praticar “jugo desigual” é tão fácil quanto apontar alguém que o fez.

E finalmente encontrei em uma frase que Charles Chaplin eternizou, a maior lição do texto: “Não morre quem deixou de viver, mas quem deixou de amar”. Penso que quem deixou de amar deixou de ter vontades, de amar-se, de suprir suas urgências, de deixar o sentimento falar mais alto que o pensamento. Sentir vontade, saudade e não ter medo. Talvez as vontades efêmeras não valem a pena. Porventura ‘as coisas são mais preciosas porque não duram’. Os fatos que marcam são aqueles que já se foram. E o que já foi quiçá não volte mais.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O céu do peixe

A vista do céu pelo rio São João do Marinheiro - 13/01/2010!

Mais uma vez, outro começo de ano.
Não enxergo assim como as pessoas que acham que os anos só façam uma pausa no fim de cada. Não consigo ver que o que muda são só os números de uma vida, ou para morte. Creio que, mesmo subjetivamente, tudo muda, ou tudo mudará. 365 dias são o suficiente para botar a casa em ordem novamente, praticar novos planos, alinhar novas ideias e viver outros momentos. De forma única e intensificada, por que não? Apesar de ser apaixonada por rotinas, e de não saber planejar, me pego muitas vezes participando do inesperado, do diferente e de surpresas que só a vida promove. E penso que tudo isso é bom.

Ontem, me recordei de como era pescar em família. Daquele tipo de pesca que só se faz no verão. Planejamos por algumas horas, e em minutos tudo estava pronto. Caixas de isopor, refrigerantes suados, e comidas engordativas. Muita comida. Roupas especiais do tipo shorts e calças velhas, chapéus, bonés e toalhas. E alguns equipamentos como varas, iscas e latinhas. Compramos as minhocas e alguns comes a mais na Venda. Saímos todos emocionados, embora uns tentavam esconder a emoção atrás do preço da gasolina.

Minha vó adora tudo isso. E isso tudo para ela tem nome: Aventura. Eeee, as vezes, dependendo do lugar, essas aventuras custam caro. Escolhemos a prainha, então. Além de ser perto é barato.
Quando chegamos pude ver o brilho e o sorriso nos olhos da minha vó. A emoção e o humor nas cantorias do vô. A alegria do meu pai em nos satisfazer. A satisfação da minha mãe em aconchegar o lugar. A paciência cínica do meu irmão ao esperar um belisco sequer do peixe. A comemoração exagerada da minha mãe sempre que fisgava um. O meu ar competitivo (se eu perder, eu apelo!). O silêncio mudo e prazeroso do Tunim. A agitação do Carlos. O profissionalismo do meu pai. E a fala engraçada e divertido do vô. Os sistemas límbicos de todos superativados.
A harmonia do lugar, da atividade e das pessoas. Uma breve amnésia de tudo.
Tudo em sintonia, uma super pescaria!

O céu azul, com algum tom de nuvem branca, que se misturava a sombra do rio.
A grama verde e macia. As águas em leves agitos tocando a terra. O balanço das árvores, o sopro do vento, e o sussurro das águas. Um cantar de passarinhos nativos. E o sol, que parecia nunca ter brilhado daquele jeito antes.

Quando tomados pelo cansaço da diversão do dia, começamos a nos organizar para voltar. Na minha competição do dia eu venci pelo esforço, meu irmão e mamãe pela quantidade, e o troféu paciência e felicidade do dia foram para o vô e a vó. Ao anoitecer, paguei pela minha teimosia; o protetor seria SIM um ótimo amigo. No final do dia, só o pó.
Lembrei-me de como essas coisas me modificam – no físico, espiritual e psicológico.
Já tive dias assim, com as mesmas pessoas e no mesmo lugar. O que muda são as datas, os pensamentos e o valor que se dá para isso. Quanto mais perto do começo do ano se dão esses acontecimentos, mais influenciam no ano e no jeito que vamos viver o mesmo. Querendo ou não, coisas boas ou não. Longe de ser superstição, mas acredito que começar o ano pensando que ele é realmente um começo, nos dá um ar de renovo, uma oportunidade a mais. Pense que os anos que se passaram ficaram, e que tudo o que acontecer agora, mesmo que seja parecido com o que foi vivido, é novo... e melhor! Até as rotinas tomam caras novas.

Nos nossos aniversários são sempre as mesmas pessoas, os mesmos presentes e o mesmo bolinho encomendado? Sim, pode ser. Porém a quantidade de bexigas diminui com o passar e as velinhas do bolo aumentam. E, pode crer, isso faz toda a diferença. Férias é a diferença. Reunião com amigos, família, e próximos. Sentir o vento, o barro, ou o sol... ou simplesmente se preparar para um novo começo de aulas, trabalho.. etc. Viver, faz toda uma diferença!

A vida é curta – diria a minha mãe – e não há pausas.
O término e o início de ano são só respirações necessárias, o que é vital.
Então, enjoy it!
Expire, inspire e encare! O ano só está começando.