sábado, 10 de março de 2012

Fernanda


Romântica. Ousada. Divertida.

Foram os adjetivos que encontrei ao procurar pelo significado do nome. Os mesmos que cabem às Fernandas que conheço de quem quero falar aqui. Elas têm um carinho especial nos olhos e uma doçura confortante no rosto.

Não queria mais cachorro, nem passarinho, nem peixe, nem espécie de animalzinho qualquer. Só continuar apreciando em zoológicos, aquários e sítios. Alguns de longe, outros mais de longe ainda. Adoro passar a mão rapidinho sobre um poodle. Ouvir o canto repetido de uma andorinha. Tocar vacas da estrada dentro do carro. Correr de galinhas. Observar um leão na jaula, pela televisão. Expulsar ao grito o gato chato da vizinha todas as vezes que me visita. Na verdade eu não tenho o dom com bichos. Já tive até um galo, mas não deu certo e foi comido num almoço de família.

Num dia lindo, Mel – uma cadelinha bem safada – deu cria. E dessa cria nasceu uma femeazinha com a cor do nome de sua criadora. Dias depois recebi uma ligação de sua dona me pedindo que comprasse um colchãozinho e comida para filhote e em seguida fosse buscar a minha cachorrinha. Aquela mesclada. Cor de mel mal definida. Não tive tempo de pensar, recusar ou agradecer. Imediatamente fui e com uma emoção pequena de ter uma companheira correndo no quintal.

Engraçadinha. Fazia xixi no pé de quem chegava perto como se ninguém se importasse. Como se soubesse que era muito filhote, pequena, inofensiva e fofa pra apanhar. Ninguém soube o que fazer. Logo começaram as pesquisas de como adestrar um filhote. Ou de como ensiná-lo a não sujar de marrom o tapete da sala. Afinal ninguém é obrigado a entrar numa casa com aquele cheiro de cachorro misturado a seu xixi e coco, que costumeiramente são associados aos donos de casa.

Seu pêlo cresce tão rápido quanto o meu cuidado por ela. Não sei dar banho, não gosto de amarrar laços que a incomodam. Mas somos amigas. Quando taco a bolinha seu jeito faceiro me faz correr junto dela pra ver quem pega primeiro. Ela gosta.  É o que ela quer. Sentamos juntas no quintal e conto o meu dia a ela contemplando a noite. Ela não reclama de afagos. Não enjoa da companhia. Nunca se satisfaz da ausência de seus donos. Está sempre por perto. Em todas as horas insuportáveis, improváveis e impróprias. Sem acepção ou discriminação de quem é visita, querido, ou não.

O nome dela partiu de um apelido que me dera. Um nome-apelido que me deu vontade, muitas vezes, em resolver por mudar meu nome pra esse. Porque as pessoas têm medo ou preguiça de me chamarem pelo meu nome, que é menor, não é feio e nem muito exótico. Mas essa roupa eu lavo outra hora. A questão é que Fernanda é muito forte pra uma cachorra de raça fofa. Pois teve que ser. E não se contentando, a família agregou mais uma pessoa, não cachorra, que termina com Nanda. Daí vira aquela confusão de nomes, apelidos, prefixos, sufixos, que acaba por se dar sub nomes aos apelidos, as pessoas, que por pouco não perdem sua identidade e seus verdadeiros nomes.

A verdade é que são tantas Fernandas, Nandas e Fers que acaba virando uma festa. Apesar de não serem da mesma raça, da mesma família, de não terem o mesmo sangue, são muito parecidas. São dóceis e parecem quebrar. Ao mesmo tempo que prezam a todo custo pela proteção dos seus. São espertas, aprendem rápido e nasceram para esperar, suportar e se alegrar por qualquer faísca de amor. Não são tão passíveis de comparação, mas seus olhinhos quando brilham parecem de uma só pessoa. Não brilham pela mesma coisa, pelo mesmo ideal, pelo mesmo sentimento, mas brilham pelas mesmas pessoas.

Não importa como foram entrar na sua vida, se por um acaso do dia ou por uma eventualidade da vida. Provocou-se surpresa ou medo. Os nomes têm real importância e marcam seus donos, demarcam seus territórios, não são esquecidos por onde passam.

O melhor de tudo isso é que não tem nada a ver em ter o dom.