terça-feira, 17 de novembro de 2009

A noite de cor incomum

"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia." N.

O coração dói?

Sim. Aprendi na SUPERINTERESSANTE e na autoconvivência interna que sim. O coração é um músculo cheio de terminações nervosas. Quando é pra doer, essas terminações enviam um torpedo para o cérebro comunicando-o que há uma sensação dolorosa chegando, estando ou sentindo. Diminuição do fluxo de sangue nas artérias coronárias ou uma irritação no pericárdio, (vide aulas de anatô!), provocam a dor, e/o que pode espalhar para outras partes do corpo. Ou seja, dói.

O único homem do grupo estava prestes a se apresentar. Ele se mostrava um tanto quanto confiante. Quando começou a falar, explicar, demonstrar... mal deu para continuar. Ainda assim continuei a admirar seu ato de bravura. Foi quando tudo se apagou. Tudo se acabou. E quem seria o pentelho? Muitos gritinhos. Surtos exagerados e sustos inanimados. Alguns ministros preocupados. A evolução de como as pessoas ficaram sabendo do acontecimento foi engraçado, pra não dizer desesperador. Através dos vultos e sombras, percebia-se a expressão de medo em alguns e a energia que trazia alegria de outros. Pensamentos e burburinhos rolavam soltos. Celulares ajudavam na salvação. Partimos, então, para um ambiente conhecido, um lugar que já havíamos explorado. O único que estava um pouco iluminado.

Chegando em casa me deparei com chamas. Velas acesas por todos os principais cantos da casa. O radinho de pilha do meu pai passando as ultimas informações. O aconchego da noite. A carícia da escuridão. O sopro do vento. A certeza da solidão.
Um devaneio de rotina, o sono e o apagão.

Havia tempos que não via mais cor no escuro da noite. Que a falta da lua não me fizesse falta. Que o sopro do vento não me trazia medos. E que a falta de explicação resultasse em tanta confusão. Adoro noites iluminadas. Adoro as luzes da cidade, ou da lanterna, ou a dos olhos. E nada disso se teve. Há tempos eu não dormia sem o sussurro da tevê. Sem antes uma boa conversa no msn. Sem que eu pudesse ler o último capitulo ou começar um novo. Sem alguém me ligar pra poder passar comigo intermináveis horas. Ou que a luz do poste não entrasse pela fresta, onde se tornava visível a forma das coisas de dentro do quarto.

De repente senti uma pontada. Não tão forte, nem tão aguda. Talvez por uma situação externa. Mas o silencio doloroso da noite me fez ter motivos. E meu coração doeu. Doeu por pensar e imaginar todas as minhas noites assim. Sem cor. Doeu? Rasgou. É como se alguém tivesse tirado tudo que havia de colorido em uma parte de mim. Traumatizou? Bastante. O preto daquela noite foi o que ficou memorizado. O vento se misturando com os pensamentos soltos. E uma voz distante em algum lugar do mundo.

Mas o que está? Somente a lembrança de uma noite vazia?
Enquanto os minutos demoravam a se passar, pensei em tudo que me trouxe risos e aprendizagem naquele dia. Nos abraços que ganhei. Nos flertes tímidos. E em tudo que imaginei. E me delirei com Feist – 1234.

A dor passou, a luz voltou, e aquele sentimento vazou.