quinta-feira, 24 de junho de 2010

O amor em terceira pessoa

"Porque deixar de amar assim não é normal. Não se desama dando um mero tchau."

O nome dele na lista de contatos estava como NÃO ATENDER, e era pra respeitar essa regra que ela mesma impôs. Era pra simplesmente não atender! Era pra ela saber que jamais, em hipótese alguma, em qualquer lugar do mundo, haveria de atendê-lo. Como se fosse alguma notícia ruim, um cobrador ignorante, ou algum prisioneiro fazendo graça. Mas, depois de longas horas meditando se deveria ou não retornar, lhe fraudou, pois sua consciência já não apitava nenhum impedimento. Ela: – Oi, você me ligou?

- Liguei. E você esqueceu-se de mim?
- Por que me ligou?
- Porque me deu vontade, eu tenho saudade.
- Saudade? Estranho...
- Nossa, você tá tão rude!
- Queria que eu te tratasse como? Uma semana atrás, você desligou na minha cara, ficou todo nervosinho, e antes disse que me ligaria no outro dia. Quer que esteja numa boa?
- Você endoidou?
- Só não tenho tempo pros seus ataquezinhos.
...
- Como você está?
- Bem.. e sua vida, como anda?
- Tudo igual.
...
- Só queria te pedir desculpas por não me atentar aos detalhes que são tão importantes pra você.
- Tá. Você me ama?
- Você me ama?
- Perguntei primeiro!
- Responde você!
- Não sei, não consigo..
- Eu também não.
- Então não ama!
- Acho que.. - Está gostando, ficando ou curtindo outro?
- Quê?!
- Sei lá, se estiver eu vou ficar feliz, porque a gente tá longe...
- Olha, você sabe que descuidou, pensou que toda vez que te desse na telha ia me ligar e a idiota aqui ia dizer que ainda te amava. Mas tudo muda, as pessoas mudam... Os sentimentos mudam.
- Então você gosta de outro.
-... Sim! (Choro) E eu não queria, mas você não fez nada pra não ser assim, não me deu escolhas.
- Como é esse cara?
- Torto! Todo torto, todo errado. Totalmente diferente de você.
- Você não merece ele.
- Mas quando a gente abre a porta pra uma pessoa entrar, qualquer uma entra!
...
- Pra ser sincero, eu também estava apaixonado e só não te contei porque eu tinha pena, pois eu achava que você ainda gostava de mim...
- Não quero ouvir! Tchau.
- Agora me ouve, eu deixei você falar... quero te falar a verdade também!
- Não, eu não quero ouvir porque eu sei que é mentira, e me poupe da sua pena.

-Ow, com você não dá!
- Nem com você.

A distância não denota falta de amor. Mas a ausência sim. A falta de interesse, de comunicação, de apetite, e de confiança. A falta contradiz qualquer ventura do amor. Dizer que ama não implica em realmente amar. Essa certeza explica por si só. Ele pensava saber tudo sobre ela. Mas a verdade é que o que ele não sabe sobre ela daria um livro enorme e completo. Ela às vezes sentia dificuldade de respirar. Não queria incutir na sua cabeça o milagre do novo amor, de um recomeço, de um ponto final. Ela nunca foi tão feliz. Nunca gostou de justificar suas mentiras, mas se mentiu foi por proteção. Porque é fato: só protegemos quem amamos. Gastou todas as suas palavras, frases e pontos escrevendo sobre a tormenta que ele causava a ela. Sobre todas as vezes que seu coração palpitava de prazer por perceber seu cheiro. O reboliço no organismo. A dor psicológica.

Não foi culpa dele. E não adianta culpar o acaso, as circunstancias, e o outro. A culpa é do tempo, que nunca dá trégua, que não cura as feridas, mas cicatriza a todas. O tempo é o agente do afastamento, do desligamento, do desamor. É incansável, inquieto e sabe quando a necessidade da satisfação fatalmente provocará a separação.

Mas ele ainda busca resposta e sua vida está uma merda. Acredita que daqui a dez anos ele a encontrará e os dois viverão eternamente, como se fosse sina. Acredita que foram feitos um para o outro pois apenas ela consegue distorcer seus sentidos, enchê-lo de saudade e satisfazer suas lombrigas. Seu amor por ela não é mais identificável. Contudo, alguém botou um ponto final e retirou aquela amarga vírgula. Alguém ouviu sua súplica ou a dela. Mas, em algum canto da memória ele há de guardar todos os seus beijos, e sua pele cor de sereia. O cheiro do seu corpo e seu maldito gosto por los hermanos. Seu sonho de grinalda, e de algum dos quatro filhos ter os olhos da cor dos seus.

Ele e ela. Sempre os dois.
Sempre indispensáveis em ambas as vidas. E é triste ter de ser eu a narrar este ultimo capítulo. Embora eu não acredite nesse fim, eles fizeram assim. Não foi eu que inventei essa história, e como uma mera expectadora, torço pra que ele acredite nessa mentira para que suas vidas rumam o caminho certo e escrevam suas próprias histórias. Que ela não viva essa mentira, mas que transforme-a em verdade. Que parem de viver e depender do suposto amor do outro. Que cessem todas as lágrimas. Que não sejam mais escravos das duras e doces lembranças. E que seja feita essa vontade.
Hoje, eu fecho esse livro, mas sei que um dia alguém contará essa história. Sentirá seu coração arder como se estivesse vivendo-a e suspirará quando terminar falando que ela sempre o amou e que ele nunca a esqueceu.

domingo, 20 de junho de 2010

Enquanto isso, a paixão me distrai..

Tudo parece estar em divina ordem. Do jeito que planejei, ou melhor, do jeito que pedi. Nada a mais do que o exato esperado. Da calmaria e da serenidade desejadas. É bom que eu confesse que o que escrevo aqui, embora seja algo real e interiorizado, é bem próprio do momento, da leitura, da escrita. Ou seja, não penso nisso a todo o momento, e talvez eu nem viva o que realmente dito a toda hora. Tem muito mais nisso, ou menos do que se mostra. Há um exagero quando demonstro estar desiludida e perdidamente apaixonada por um ser que me esnoba e ignora tudo o que pra mim tem um gigantíssimo valor. E é constante a diminuição que me faço toda vez que expresso os sentimentos considerando que são inúteis perante essa minha forma de amar. A forma que encontrei pra mim. A forma que se desencontrou de mim.

Quando o coloco em meus sonhos, estou puramente me punindo por guardar tanto engasgue aqui na garganta. Serei então uma eterna covarde, pois não há ilusão maior e mais excitante do que é transmitida num sonho. Há quem diga que coleciono homens errados e faço confusão dos certos. Se ele fosse uma peça para se colecionar, não seria a das mais raras, porém a mais delicada de todas. Pois todo cuidado com ele é pouco, sendo que o autoflagelo já nem existe mais.

Continuamente penso nos meus ideais. Daquilo que quero pra mim, do que espero de mim. Nunca fui de planejar, nem de me prender a desejos repentinos ou estimulados por outros. E isso não inclui nenhuma paixonite, namorico ou bitoquita. É que sem perceber elas simplesmente acontecem. De repente a idéia do namoro sério, de estar com alguém e simplesmente planejar o casamento dos sonhos aparece... E toma conta de todo resto de senso que te sobra. Mas não toma o lugar dos teus reais objetivos, excluindo então esse pensamento duplo, gerando o mais egoísta de todos: Se realizar.

Só sei que quando o via o mundo parava de girar, ou girava em tempo menor, ou rodava em velocidade excedida... Não sei. O que eu sei é que perdia o ar, o movimento e as palavras. Perdia-me. E que todos devem estar cansados de saber isso, inclusive eu. Esse acúmulo de sentimento cresce e se penetra de uma maneira tão fria no meu ponto mais sensível. Os pés, apesar de saberem o caminho estão viciados em praticar algumas rotas em círculos. As mãos estão preocupadas a todo instante, e com mania de tapar os olhos. São sentimentos mal-resolvidos, com forte perspectiva romântica e uma tendência incrível de se concretizar em amor. O que me dá medo porque o meu ideal é me apaixonar sem me prender, sem assustar, sem viciar. Por enquanto eu vou no embalo e fico nessa minha respeitável espera pela outra etapa, onde eu saberei, finalmente, outra vez, o que é amar.

terça-feira, 15 de junho de 2010

E nesse tempo houve de tudo...

Não, não houve muito tempo.
Minhas últimas semanas foram as mais demoradas e tensas do ano. Acordava quase que todos os dias com a sensação da corda no pescoço. Na vontade de me anestesiar com qualquer coisa em que eu pudesse ver solução imediata, e perdurada. Com qualquer anfetamina que me cegasse por algumas horas. Sem nenhuma falação quando eu estivesse mofada no quarto com os fones de ouvidos a toda. Uma vontade de vomitar os deveres, repelir as tarefas ou simplesmente calar as pressões. A vontade de escapar por baixo, sem que ninguém me visse. Mas eu vacilo comigo mesma, pois minhas vontades e planos não passam de palavras que me motivam e não se ativam nunca. E só pra me ajudar, fui obrigada a ouvir as palavras mais inconvenientes, ao mesmo tempo tocantes, num tom menos ameno possível. “Você acha que se guarda se trancando no quarto, fingindo um tempo para os estudos... para de fingir estar em reclusão, e cresça!” Pronto. Depois dessa flechada no meu ego, só parei e fiquei. Senti-me toda esquisita e vivendo um período farsante. Parecia uma transição de fases, do tipo, já não sou mais uma criança, uma menina, uma normal. Do tipo, o que está acontecendo comigo? Onde eu quero chegar, ou, por que quero tanto parar? Afundei-me numa cova de dúvidas, numa caixa de serviços intermináveis, voltando com tudo ao meu espírito adolescente.

E nesse tempo houve de tudo. Voltei a tumultuar a casa com meus gritos ardidos, cantando alto no banheiro, tirando uma nota no teclado e som no violão. Abasteci as plantas da chácara sem achar aquilo chato, ou parado. E a poeira nem me irritou mais. Vesti a calça e as botas. A temperatura interna era bem menor que a de fora. Revi meus amigos. Revivi o passado, e sim de uma forma imensamente melhor, só não me pergunte como. E a vibração do show foi tão prazerosa quanto a ressaca após ele. Também tentei arrancar violentamente aquele sentimento enraizado aqui (pois o número de tentativas não desqualifica o ato, né?) por isso, tentei. Não critiquei mais o dia dos namorados, apenas aproveitei meu sábado. Fechei o semestre com notas boas e na raspa. Tomei coragem e não te liguei. Sonhei com você de novo, e dessa vez não acordei ansiosa pra te ver a noite. Concordei com aquela amizade do ônibus. Te respeitei quando com um olhar me disse que passava dos limites. Tanto eu fiz que... que enfim. Estou sempre fugindo do que é difícil, complicado ou contrário. E sempre na dúvida quando tudo que existe é dividido em dois. Resolvi escolher por ver a vida que se passa fora do meu quarto. E assim me atrever a fazer o que mais me pesa, no que mais me cega, onde mais eu peco. Sem fugir ou me esquivar de nada, como aquelas palavras quiseram me dizer. Bom, não sei quantos centímetros, mas acho que cresci. Nessas semanas eu evolui.

Passei a entender que, os sentimentos são só ferramentas de retórica de uma das vozes do seu cérebro durante uma discussão interna sobre qual caminho seguir numa bifurcação.