sexta-feira, 14 de maio de 2010

Minha gratidão tem nome

O que eu queria mesmo dizer é outra parte de mim, e já é dito de outra pessoa.


Toda vez que me esprimo há caldo de sobra.
Todos esses anos enxuguei os mais vivos momentos pra dentro do meu íntimo. Me arrisco em dizer que o melhor do que passei ainda não está por vir, mas do que já me aconteceu é de bom tamanho. Ontem, por um momento, notei que havia silêncio a ponto de ouvir somente os ponteiros do relógio em sua imposta missão misturados ao ruído dos meus céleres pensamentos. Do meu quarto ouço automóveis e caminhões na rodovia, e claro, sem distingui-los. E não há mais rota de avião, como já houve. Então percebo que algo mudou. Lógico! A todo instante muda, têm noção?

Enquanto me extraio, posso lembrar do clima frio e estagnado de outrora. De quando vivia o colegial sem me dar conta de que o levaria pos alguns anos a frente, ou até pela vida toda.. quem dirá que não? Consigo recriar imagens velhas, sentir o cheiro que aquilo tinha, e refazer o ambiente com a ocasião. Éramos amigos insolúveis. Tínhamos uma adolescência em contratempo. Sonhávamos além do que sabíamos. Exigiam-nos bem mais do que podíamos. Mas sobrevivemos a tudo, e me aventuro por dizer que ainda é insolúvel. Ah, que falta me faz essa época; a cor dos sorrisos, o sabor dos bilhetes, o descompromisso com a vida, o sonhar em forma de fantasia, e a amizade que todos os dias existia. É tão triste pensar que nos tornamos 'pessoas grandes', como dizia o principezinho, e que 'pessoas grandes são assim'. Têm necessidade de explicação, não são verdadeiramente compreensivas, e por vezes não te dão crédito dependendo da sua roupa. Hoje existe a distância, tanto de cidades quanto de escolhas que fizemos, e que as vezes é superada por recados periódicos no orkut, ou nem isso.

Tentei me enxugar ainda mais e vi que sou consumida por lembranças que merecem o total primor. Me vi correndo pelas ruas enquanto o céu desabava, sem me importar por molhar os livros e cadernos, ou ficar ensopada correndo o risco de pegar qualquer doencinha aguda. Me ouvi cantando no tom mais fino e no volume mais alto no meio da rua, em plena madrugada ou em qualquer volta pra casa, músicas que estão vivas até hoje dentro de nós. Me achei brincando nas águas claras do rio de sempre, refletindo o feliz sentimento exposto ao sol. Sinto os meus pelos se arrepiando só de pensar em tudo o que passamos, que na verdade não passou.. ficamos! Fico anestesiada só por lembrar de todos os pedacinhos que exploramos, os cantinhos que inauguramos, as piadinhas que inventamos, os gritos que arrancamos, e da alegria que tivemos.

Desculpem-me se eu os envolvi nisso. Talvez não fosse essa minha intenção, e sim de outro, que por pretensão ou acaso queria nos unir. Ainda que eu preze por minha liberdade, não quero me desprender de certas coisas. Pessoas, coisas não. Não há razão pra pressionarmos tudo, acontecerá naturalmente, de forma diferente. Nem há motivos pra chorar; se a amizade foi real e intensa, ela sempre volta. Forçar muitas vezes é um pecado! Por isso, não espero que todos os que são inesquecíveis pra mim voltem, mas que de alguma forma não me deixem. Nossas cenas, embora não intactas, ainda estão guardadas. Só há uma pausa solene entre elas, que a vida encarrega de fazer.

Sei que foi estranho, mas me justifico por ser tão insone.

Amigos,
obrigada pelas lembranças e noite não dormidas pensando nelas.
Sintam-se abraçados, apertados e mordidos de leve por mim, sempre.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Meia terça-feira

Adoro manhãs. Manhãs de sol escaldante ou de frio congelante. Manhãs com semi-roupas ou empacotada num moleton velho, de uma cor só, e embrulhada por dois edredons. Manhãs dormindo ou caminhando; sonhando ou trabalhando. Mas hoje é terça-feira, e acordei já era meia-manhã. O vento já havia dissipado as nuvens, e os passaros já estavam ensaiando o coro da manhã seguinte. Com os pés aquecidos pela pantufa, e o corpo frio mas protegido, fui até a cozinha... onde meu chá aguardava por mim. Me lembrei de uma entrevista de emprego que marquei na tarde passada pra hoje de manhã. Me limpei, me vesti, me perfumei e fui-me. Voltei pra casa achando que tudo "deu certo". Do jeito que pensei, ou mais. E continuo pensando assim!

Minha cama estava do jeito em que a deixei, e o livro na página certa. Comecei a ler de onde parei, e decidi lutar por ela ... Resolvi pensar em algo que silenciasse a dor dela, e que resolvesse sua saudade. Estava farta de achar que se estragou por quem não a merecia! De olhar aqueles olhos que sempre te faziam mal. Ele é um incauto. Não cuida! Se deixa... e por vezes te deixa. Ele sabe, folga, não leva a sério. Ela é inconsequente, não sabe e leva tudo ao pé da letra. Ele a quer por algumas horas. Ela o quer interminavelmente. A dor dele é um fragmento, a dela é generalizada. Ela sofre mais, tá na cara! Mas é ele que chora sempre. Que liga quase toda semana. Ela corre e ele a pega. Ele foge e ela o perde! Toda vez que ela o vê desgraça o seu lindo rebolado. Ele perde a vergonha ganhando seu espaço. O corpo dela fica inerte. Ela é sofrivelmente linda, e é isso que ele diz, mesmo não vocalizando nada. Se percebem num olhar. A respiração daquele ar louco e apaixonado embaçava o vidro do carro. Mas ela sabe que na manhã seguinte aquela noite expressiva ficará ardente em sua memória. E para ele não significará muita coisa, ou apenas nada.

Todos os dias ela acha que seus sentimentos relativo a ele são só provocações e impulsões. Os dele por ela são triviais e calados. Ela pensa que o coração dele é surdo, mas no final conclui que é somente mudo. Ele tem medo por ela ter tanta ousadia? Ou ele é covarde por ser tão insensível? Ela não sabe. Talvez se soubesse ela poderia apagá-lo do seu cerne. Nos recônditos ele abriga. Ainda. Que mal ela fez? Como eu gostaria de safar ela disso.

Ouvi minha mãe me chamar, e despertei -me desse cesto de dúvidas e incertezas. Quando já vi, passava-se do meio dia, e depois dessa hora proibi-me de pensar em qualquer coisa que não faça sentido. E quanto a ela? Ela é a questão, a pergunta e a resposta. É a intensidade, o desespero e a coragem. Ela é a dor, a briga, ou a palha. Ela sou eu, ou ele, ou nada. Contudo o que é importa é que Ela vive dentro de mim e dele, embora não saiba.