segunda-feira, 2 de julho de 2012

sábado, 10 de março de 2012

Fernanda


Romântica. Ousada. Divertida.

Foram os adjetivos que encontrei ao procurar pelo significado do nome. Os mesmos que cabem às Fernandas que conheço de quem quero falar aqui. Elas têm um carinho especial nos olhos e uma doçura confortante no rosto.

Não queria mais cachorro, nem passarinho, nem peixe, nem espécie de animalzinho qualquer. Só continuar apreciando em zoológicos, aquários e sítios. Alguns de longe, outros mais de longe ainda. Adoro passar a mão rapidinho sobre um poodle. Ouvir o canto repetido de uma andorinha. Tocar vacas da estrada dentro do carro. Correr de galinhas. Observar um leão na jaula, pela televisão. Expulsar ao grito o gato chato da vizinha todas as vezes que me visita. Na verdade eu não tenho o dom com bichos. Já tive até um galo, mas não deu certo e foi comido num almoço de família.

Num dia lindo, Mel – uma cadelinha bem safada – deu cria. E dessa cria nasceu uma femeazinha com a cor do nome de sua criadora. Dias depois recebi uma ligação de sua dona me pedindo que comprasse um colchãozinho e comida para filhote e em seguida fosse buscar a minha cachorrinha. Aquela mesclada. Cor de mel mal definida. Não tive tempo de pensar, recusar ou agradecer. Imediatamente fui e com uma emoção pequena de ter uma companheira correndo no quintal.

Engraçadinha. Fazia xixi no pé de quem chegava perto como se ninguém se importasse. Como se soubesse que era muito filhote, pequena, inofensiva e fofa pra apanhar. Ninguém soube o que fazer. Logo começaram as pesquisas de como adestrar um filhote. Ou de como ensiná-lo a não sujar de marrom o tapete da sala. Afinal ninguém é obrigado a entrar numa casa com aquele cheiro de cachorro misturado a seu xixi e coco, que costumeiramente são associados aos donos de casa.

Seu pêlo cresce tão rápido quanto o meu cuidado por ela. Não sei dar banho, não gosto de amarrar laços que a incomodam. Mas somos amigas. Quando taco a bolinha seu jeito faceiro me faz correr junto dela pra ver quem pega primeiro. Ela gosta.  É o que ela quer. Sentamos juntas no quintal e conto o meu dia a ela contemplando a noite. Ela não reclama de afagos. Não enjoa da companhia. Nunca se satisfaz da ausência de seus donos. Está sempre por perto. Em todas as horas insuportáveis, improváveis e impróprias. Sem acepção ou discriminação de quem é visita, querido, ou não.

O nome dela partiu de um apelido que me dera. Um nome-apelido que me deu vontade, muitas vezes, em resolver por mudar meu nome pra esse. Porque as pessoas têm medo ou preguiça de me chamarem pelo meu nome, que é menor, não é feio e nem muito exótico. Mas essa roupa eu lavo outra hora. A questão é que Fernanda é muito forte pra uma cachorra de raça fofa. Pois teve que ser. E não se contentando, a família agregou mais uma pessoa, não cachorra, que termina com Nanda. Daí vira aquela confusão de nomes, apelidos, prefixos, sufixos, que acaba por se dar sub nomes aos apelidos, as pessoas, que por pouco não perdem sua identidade e seus verdadeiros nomes.

A verdade é que são tantas Fernandas, Nandas e Fers que acaba virando uma festa. Apesar de não serem da mesma raça, da mesma família, de não terem o mesmo sangue, são muito parecidas. São dóceis e parecem quebrar. Ao mesmo tempo que prezam a todo custo pela proteção dos seus. São espertas, aprendem rápido e nasceram para esperar, suportar e se alegrar por qualquer faísca de amor. Não são tão passíveis de comparação, mas seus olhinhos quando brilham parecem de uma só pessoa. Não brilham pela mesma coisa, pelo mesmo ideal, pelo mesmo sentimento, mas brilham pelas mesmas pessoas.

Não importa como foram entrar na sua vida, se por um acaso do dia ou por uma eventualidade da vida. Provocou-se surpresa ou medo. Os nomes têm real importância e marcam seus donos, demarcam seus territórios, não são esquecidos por onde passam.

O melhor de tudo isso é que não tem nada a ver em ter o dom. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Com a palavra, o coração


Hoje meu coração acordou querendo falar...




Devia ter me preparado pra isso e esperado uma atitude que eu tanto cobrei mesmo depois da gente se estranhar tanto? Mesmo depois de ter desistido centenas, e por que não milhares de vezes? Ah, é tão ruim esperar. Pior que isso é ter esperança. Continuar a esperar que a areia pare no ajuntamento das mãos sem que ela escorregue por entre os dedos. Tentativa inútil de poupar o coração para o desgosto. É torturar-se. Pois o coração é o que tem de mais orgulhoso em matéria de amor. Não se submete a qualquer vontade sua. Suas paixões são escolhas próprias. Sem dar direito a interferências. O coração não obedece a sociedade, tampouco quer entendê-la. Só quer pulsar seja pro primeiro que encontrar seja pelo mesmo até durar.

Todas as noites eu peço por paz. Por calma. Por paciência. A gente tem esse defeito, de pedir paciência em desesperos. De pedir por calma em prantos. Mas a gente pede porque se esgota tudo o que há por fazer. Não há caminhos. A estrada é solitária. E nosso único acompanhante é Deus. Não que isso não basta. Não que seja pouco. Eu quis dizer que é só.

Foi numa noite quente. As estrelas sorriam ironicamente do nosso encontro. O pessoal da rua por pouco não parou para nos assistir. A gente sintonizava os nossos rádios mais uma vez naquela velha estação onde todos saíram de férias, permanente. Não havia mais freqüência modulada. Eu queria conversar. Ele queria me tocar. Até que nos ajustamos como um aparelho de rádio que não se usa mais. “Ele e você também não se usam mais. Caíram da moda. Será que dá pra entender?” Não.

Ridículo. A gente se abraçou pela última vez. Cena que já aconteceu vinte vezes. Parecíamos só nós dois no mundo. Falamos bobagens originais como “eu sinto sua falta”, “te amo tanto que chega a doer”. Frases. Essas que saem e nos faz sentir poetas ou protagonistas de novela. Respirações ofegantes. Vestígios do vício de querer beijar. Antiga queda por seus abraços. Minha primitiva forma de amar.

Esse ano eu quero paz. A paz que eu desejei ano passado, no retrasado e no outro, no outro... O que importa é que continuo na esperança de que uma hora ela vem. Sem medir esforços. Sem cobrar impostos. Juntando os destroços e jogando-os pro ar. Esse ano eu quero que meu coração conheça novas aventuras. Que ele tenha novos desejos. Que ele bata por mais pessoas. Que se engane por alguém estranho. Que não morra por alguém que não  morreria por ele. Quero um coração esperto como o de um menino travesso. Desejo um coração maduro como de uma mulher que eu conheço. Anseio por um coração sábio como o da mulher que eu quero ser. Quero um coração que viva no coração de outra pessoa até ele não querer bater. Um coração que esqueça as dores do mundo. Que saiba escolher. 



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Conformar-se


Eu sei que o que irei escrever hoje é o contrário do que sentirei amanhã. E que a pergunta não será respondida. E que os questionamentos jamais serão argumentados. Não há constâncias nas palavras. Só há frases mutiladas, perdidas, feitas pra fuzilar, doer. Por que somos assim? Já disse que não há resposta. Só há dúvidas e uma ponta de conformismo ao aceitar que somos o que a vida nos fez ser. Por que agimos assim? Ora, já falei que não há resposta. Talvez porque somos assim.

Eu sei que a minha dúvida de hoje será a minha pergunta de amanhã e a confusão que farei sempre. O que acontece com as pessoas? Qual é a delas em não querer se encaixar? Por que sempre quando um vem com a farinha o outro já fez o pão? Onde está a graça em apressar e contrariar tudo? A verdade é que o apressado além de comer cru, ainda come sozinho. Qual é a graça do sozinho?

Eu sei que eu quero hoje ainda vou querer amanhã e depois de amanhã. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Julieta

Vim aqui contar um dedinho sobre meu fascínio por "Julieta", de Annie Fortier, presente de Ano Novo de uma querida amiga. A obra tem uma surpreendente levada que te prende. Faz-te querer ler a todo momento. Te volta a passados e se mistura de uma forma deliciosa com o presente. Misteriosa e ao mesmo tempo romântica, não seria de menos, é envolvida por um dos romances trágicos mais belos . Romeu e Julieta - Shakespeare Apaixonado.


"(...) Tia Rose sempre presumira que o mundo inteiro vivia num estado de loucura constantemente flutuante e que a neurosa não era uma doença, mas uma realidade da vida, como a acne. Uns têm mais, outros menos, porém só as pessoas verdadeiramente anormais não têm nem um pouco."


"(...) e fazer com que a vida não fosse um processo finito, mas uma passagem perpetuamente repetida por um buraquinho no tempo."

Alguns terão perdão, outros castigo;
De tudo isso há muito o que falar.
Mais triste história nunca aconteceu
Que esta, de Julieta e seu Romeu.

- Shakespeare