Hoje meu coração acordou querendo falar...
Devia ter me preparado pra
isso e esperado uma atitude que eu tanto cobrei mesmo depois da gente se
estranhar tanto? Mesmo depois de ter desistido centenas, e por que não milhares
de vezes? Ah, é tão ruim esperar. Pior que isso é ter esperança. Continuar a
esperar que a areia pare no ajuntamento das mãos sem que ela escorregue por
entre os dedos. Tentativa inútil de poupar o coração para o desgosto. É
torturar-se. Pois o coração é o que tem de mais orgulhoso em matéria de amor.
Não se submete a qualquer vontade sua. Suas paixões são escolhas próprias. Sem
dar direito a interferências. O coração não obedece a sociedade, tampouco quer
entendê-la. Só quer pulsar seja pro primeiro que encontrar seja pelo mesmo até durar.
Todas as noites eu peço por paz.
Por calma. Por paciência. A gente tem esse defeito, de pedir paciência em
desesperos. De pedir por calma em prantos. Mas a gente pede porque se esgota
tudo o que há por fazer. Não há caminhos. A estrada é solitária. E nosso único
acompanhante é Deus. Não que isso não basta. Não que seja pouco. Eu quis dizer
que é só.
Foi numa noite quente. As
estrelas sorriam ironicamente do nosso encontro. O pessoal da rua por pouco não
parou para nos assistir. A gente sintonizava os nossos rádios mais uma vez
naquela velha estação onde todos saíram de férias, permanente. Não havia mais freqüência modulada.
Eu queria conversar. Ele queria me tocar. Até que nos ajustamos como um aparelho
de rádio que não se usa mais. “Ele e você também não se usam mais. Caíram da
moda. Será que dá pra entender?” Não.
Ridículo. A gente se abraçou
pela última vez. Cena que já aconteceu vinte vezes. Parecíamos só nós dois no
mundo. Falamos bobagens originais como “eu sinto sua falta”, “te amo tanto que chega
a doer”. Frases. Essas que saem e nos faz sentir poetas ou protagonistas de
novela. Respirações ofegantes. Vestígios do vício de querer beijar. Antiga
queda por seus abraços. Minha primitiva forma de amar.
Esse ano eu quero paz. A paz
que eu desejei ano passado, no retrasado e no outro, no outro... O que importa
é que continuo na esperança de que uma hora ela vem. Sem medir esforços. Sem
cobrar impostos. Juntando os destroços e jogando-os pro ar. Esse ano eu quero
que meu coração conheça novas aventuras. Que ele tenha novos desejos. Que ele bata
por mais pessoas. Que se engane por alguém estranho. Que não morra por alguém
que não morreria por ele. Quero um coração esperto como o de um menino travesso.
Desejo um coração maduro como de uma mulher que eu conheço. Anseio por um
coração sábio como o da mulher que eu quero ser. Quero um coração que viva no
coração de outra pessoa até ele não querer bater. Um coração que esqueça as dores do mundo. Que saiba escolher.
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