terça-feira, 15 de setembro de 2009

Longe de casa (...)

(Rod. Euclides da Cunha, 13/09/09, por mim)
Acordando com o galo.
A proteção materna ao cuidar de acordar.
Sentindo o cheiro leve e matutino da brisa.
O sino bate pontualmente.
Uma carona indispensável e favorável.
Filosofar na aula de hoje. (...)
Fone, música e paisagem.

O que é mais legal na vida são as coisas ocasionadas. As situações que acontecem,
as visões momentâneas, os risos das coisas despercebidas, as “caras” desconhecidas.
Sou sócia do clube das pessoas que veem graça naquilo que, em geral, não tem. Acho graça mesmo! Dou risada. Admiro. Participo. Paro e reparo.
Me encanto. Me espanto.

Mais ou menos uns 65 Km. De Jales (pois é, onde me habito agora) à Votuporanga (cidade do que vou ser quando crescer). A cada parada um vizinho de banco, novo. Por
volta de 45 bancos.

Nunca acreditei nas amizades feitas em ônibus. Não se faz amizade em ônibus. Passageiro não é um apelido, é um nome. No entanto, as pessoas insistem. Cumprimentam cordialmente. Alguns como se conhecessem a pessoa há anos. Outros com a cara mais fechada e carrancuda do mundo, como se o vizinho fosse o culpado da derrota do seu timeco. Compartilham o cheiro de queijo nacho do salgadinho com todos, e ainda oferecem. Cantam alto. Exageram na piada. Leem páginas. Já sentam reclamando, esbravejando, xingando o pobre do motorista, deitando o banco até chegar no joelho do azarado de trás. Tossem, espirram, bocejam, roncam. Sem falar nos... E dormem, finalmente dormem.

Note os detalhes desta curta viagem.
Percebam a intimidade entre os passageiros.
Há todo um calor e uma recepcionalidade envolvida.
Os seres humanos gostam disso. Se sentem bem em qualquer lugar.
Se façam à vontade.
A solidão de viajar num ônibus só aparece internamente, e quando quer.
Pois não é necessário.

Todo dia é um dia diferente.
Novas expectativas, novas decisões.
Novas nuvens, novas folhas.
Novos gestos, novas emoções.
Outros sentimentos, outras preocupações.

“Basta cada dia o seu próprio mal” – Mateus 6:34

Mas pra toda viagem, um “bilhete” novo.
Em cada página, do mesmo livro, um conteúdo distinto.
E de toda andança, o cenário único.

Pontual é o sino.
Rodoviária é o destino... tchau!