segunda-feira, 8 de março de 2010

Pare com isso e Arrume tudo!

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Esses dias de mudança mexeram muito comigo, pra não dizer que me estragaram. Eu me senti volúvel demais, instável demais e estranha demais. Como foi tudo muito rápido, alguns lances me passaram despercebidos, o que eu lamento ter acontecido. O meu quarto, que sempre foi meu escritório, meu apartamento, meu lugar seguro, meu diário secreto, minha deliciosa bagunça, meu íntimo, passou a ser simplesmente um quarto sujo, sem ordem e silencioso.
Em casa, minha cabeça pifava e sorte que as aulas começaram. A companhia de alguém familiar que esteve sempre perto por esses dias, me confundia ainda mais. Tudo estava tão vazio quanto a sala do meio. Meu coração entoava ecos de uma lembrança esquecida. Não via cor nas paredes, nem graça no jardim. As molduras ficavam tortas, haviam ratos atrás das portas, e na pia algumas baratas mortas. (não era pra rimar, mesmo!). Eu só queria gritar, e saber me organizar. Não demoraria uma semana pra eu me acostumar, ou talvez me situar. Mas eu estava desgastada, e a mudança me estragou.

Me lembro de quando era criança e que mamãe me acordava para assistir meus desenhos preferidos. Acordava disposta, e como numa rotina, louca para assisti-los. Não me apressava em escovar os dentes, nem me importava com remelas. Os desenhos matinais pareciam mais calmos, como se dessem bom-dia num tom engraçadinho. A tarde tinham uns bem rurais, que eu os acompanhava com uma mamadeira, ou chupeta e fralda. Antes de dormir assistia alguns programas infantis, supereducativos, e que me inspiravam alguma invenção no dia seguinte. Evidente que eu não saberia que aquele meu contentamento e prazer que vinham com desenhos “bobinhos”, me fariam falta hoje... ou que seriam substituidos por outros tipos. Arrume tudo e Pare com isso é, sem dúvida, o desenho mais ditador. É como se a voz da sua mãe estivesse por trás, subliminarmente. Cada um dos personagens tem o nome de uma bronca, veja que máximo: Lave seu rosto, Brinque lá fora, Fique calmo, Agora não e o mais legal de todos Eu disse não, dentre outros. E por mais que a arte e os efeitos sonoros fossem bons e por uma causa nobre, eu só queria que o desenho acabasse o mais rápido.

Na Tv a cabo passa um programa que se chama Cada coisa em seu lugar, que eu me recuso a assistir novamente. Mas, um dos espisódios uma mulher precisava se livrar da maioria dos seus móveis e trecos que só enfeiavam e sujavam o aspecto da casa. Uma mulher triste e desesperançosa. O roteiro do programa é quase igual a todos desse tipo, embora algo muito interessante me chamou a atenção. Quando ela estava prestes a ficar uns dias viajando para que o pessoal pudesse organizar sua casa e colocar móveis novos que puderam comprar com a venda dos seus antigos, ela virou para apresentadora e disse: “Estou me livrando de um pedaço empoeirado da minha vida.” Não era só do desgaste dos móveis, da bagunça de todos os cômodos, ou da poeira nas roupas que ela estava falando. Era de um pedaço que só ela exergava. Como se o aspirador pudesse passar pela sua vida e tirar todas as impurezas. O recomeço. Um outro olhar, um novo astral. Uma imensa limpeza de casa e alma.

Houve uma briga de sentimentos dentro de mim.

Depois de 5 dias consegui arrumar meu quarto. “Oh, quanta porquice”. Não, não é isso. Era só uma questão de pendências a resolver, e alma para lavar. Botei colcha nova, joguei sapatos fora, dobrei minhas roupas, limpei meus livros e passei veneno. Tomei coragem e pude ver a real imagem do meu íntimo. De repente eu estava me abrindo com quem eu nunca vi mais gordo; Ouvindo aquela música que eu prometi nunca mais ouvir, e sem chorar; Tocando texturas da parede velha e achando o máximo. Neutralizando odores naturais das plantas do jardim; Vendo novos desenhos e tentando não rir com malícia; E sentando no chão frio do meu quarto outra vez! Me acostumando, me acomodando. Convivendo, e aprendendo.

Fernandinho Pessoa para fechar:

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és!

4 comentários:

  1. Ameeeei o texto. Qdo eu era criança eu adorava ver desenhos. Cultura sempre foi meu canal preferido, já q nao tenho tv a cabo! HAHAHA... mas qdo tiver vontade de ver um desenho, acorde cedo ou então coloque na cultura...
    Sobre mudanças, bom... Eu adoro mudanças! Mas odeio a parte de que temos que arrumar nossos quartos, era tao bom qdo minha mae arrumava pra mim ;D, folgadiinha! Mas tudo tem seu lado positivo, você vai e ajeitar amiga! ;D hahahahahaha... ta grandinho mas ta bom o texto! Beijos! (L)

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  2. texto maneiro..curto desenhos principalmente com esse assunto..muito interessante..Parabens..;)

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  3. -' Como coisas "bobas" da infância, hoje, fazem tanta falta.

    As vezes queria voltar a ser criança para ter aquela ingenuidade, e sentir aquela paz.

    Muito interessante o seu texto, gosteii muito.

    ;D

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