quinta-feira, 1 de abril de 2010

Solilóquio

(No céu do rio Paraná, 28/03/10. )
Há semanas eu ansiava por isso. Não sei se por tanto querer, ou por não saber ao certo se queria mesmo ou não. Tufões de ansiedade e medo. Sentimentos que inebriavam-me. Alguma coisa aqui perto me dizia que era distante que encontraria a paz. Então eu me hesitei. Só então me controlei...

Uma sorridente manhã de sábado. Malas repletas de roupas. Bolsas com perfumes, xampus e bolachas. Pausas estranhas para contemplar a preocupação de não esquecer nada. O grito de pressa da mãe. Os últimos retoques no rosto, no corpo e na pele. A despedida eterna por dois dias fora. O ônibus. O pessoal. A alegria. O tchau! Aquela bagunça cor de baunilha que não irritava nem o motorista. A voz gutural do meu irmão, companheiro de poltrona. A conversa fiada. O ressonar dos mais velhos. A estrada. As cidades de antes. O sol que me levou as lembranças. A música gritada lá atrás. A saudade comprimida. A vista do rio. A altura da ponte. A insígnia que caracterizou a chegada. A expectativa do momento. A surpresa que haveria. No começo alguém parecia uma inexorável imagem, que passaria disso para palhaço no fim. A entrega das camisetas. O recolher do tempo. A acomodação. A brincadeira. A dinâmica. A sintonia. A harmonia. A renúncia. O acampamento!

À noite, ainda ouvi algum cantar de pássaro. Um cantar de grupo. Uma cantada de alguém... O lanche que satisfez, a brincadeira divertida que cansou, a música que cessou. A lua, o mato, o rio. A oração, novamente uma canção. O balanço, que me fez venerar, ainda mais, a gravidade. A garoa que vi que tocou, que nos molhou. O toque de recolher, apenas recolher... Porque dormir, NÃO FOI O CASO! Um monte de besteiras ditas sem pensar. Flores jogadas pela janela. O tempo que passava pela quantidade de palavra traduzida. A música, o sono, o sonho... Quem deu aquela buzina de gás na mão dele? O tendo que acordar e tendo que sorrir na hora que o galo nem pensava em cantar! Fingir que dormimos. Disfarçar as olheiras. Comer, beber e aproveitar!

Aspirei à paz. Aquela que, um dia atrás, alguém professou que encontraria. E então, descobri que família é uma benção, e abrange muito mais que fitas de DNA iguais. E aprendi que meus dias podem se encher de flores, de cheiros e de amores se eu assim permitir. Que a areia fina também combina com peixes de água doce, e que há transparências nos rios. Que perco gramas caminhando por elas. A sensação de soltar balões é coisa fina. Que muitas pessoas junto não significa multidão; e poucas junto não é solidão. Que há Deus nas pessoas, nos abraços e nas palavras. E que é forte! E que a saudade pode estar comprimida, mas não desaparecida. E que é impossível manter-se alegre, feliz e cantante...

Na direção do azul, é lá que olho e vem de lá o que sinto!

3 comentários:

  1. "Uma cantada de alguém..." hahaha :D
    Amiga, amei o texto, tá tãoo você... haha *
    tanto sentimento nele né, gostei gostei! *____*
    te amo!

    ResponderExcluir
  2. Nossa muito legal o seu texto, prende até o fiinal :D

    É tão bom acampar né
    Adoro :P

    Beiijos

    ResponderExcluir
  3. aqui vc tah mais desprendida... eh assim que te gosto quando leio.. sua capacidade me facina, e sua alegria me anima linda.

    ResponderExcluir