Foram os adjetivos que encontrei
ao procurar pelo significado do nome. Os mesmos que cabem às Fernandas que conheço
de quem quero falar aqui. Elas têm um carinho especial nos olhos e uma doçura
confortante no rosto.
Não queria mais cachorro, nem
passarinho, nem peixe, nem espécie de animalzinho qualquer. Só continuar
apreciando em zoológicos, aquários e sítios. Alguns de longe, outros mais de
longe ainda. Adoro passar a mão rapidinho sobre um poodle. Ouvir o canto
repetido de uma andorinha. Tocar vacas da estrada dentro do carro. Correr de
galinhas. Observar um leão na jaula, pela televisão. Expulsar ao grito o gato chato
da vizinha todas as vezes que me visita. Na verdade eu não tenho o dom com
bichos. Já tive até um galo, mas não deu certo e foi comido num almoço de
família.
Num dia lindo, Mel – uma cadelinha
bem safada – deu cria. E dessa cria nasceu uma femeazinha com a cor do nome de
sua criadora. Dias depois recebi uma ligação de sua dona me pedindo que comprasse
um colchãozinho e comida para filhote e em seguida fosse buscar a minha cachorrinha.
Aquela mesclada. Cor de mel mal definida. Não tive tempo de pensar, recusar ou
agradecer. Imediatamente fui e com uma emoção pequena de ter uma companheira
correndo no quintal.
Engraçadinha. Fazia xixi no pé de
quem chegava perto como se ninguém se importasse. Como se soubesse que era
muito filhote, pequena, inofensiva e fofa pra apanhar. Ninguém soube o que
fazer. Logo começaram as pesquisas de como adestrar um filhote. Ou de como
ensiná-lo a não sujar de marrom o tapete da sala. Afinal ninguém é obrigado a entrar
numa casa com aquele cheiro de cachorro misturado a seu xixi e coco, que
costumeiramente são associados aos donos de casa.
Seu pêlo cresce tão rápido quanto
o meu cuidado por ela. Não sei dar banho, não gosto de amarrar laços que a
incomodam. Mas somos amigas. Quando taco a bolinha seu jeito faceiro me faz
correr junto dela pra ver quem pega primeiro. Ela gosta. É o que ela quer. Sentamos juntas no quintal e
conto o meu dia a ela contemplando a noite. Ela não reclama de afagos. Não
enjoa da companhia. Nunca se satisfaz da ausência de seus donos. Está sempre
por perto. Em todas as horas insuportáveis, improváveis e impróprias. Sem acepção
ou discriminação de quem é visita, querido, ou não.
O nome dela partiu de um apelido
que me dera. Um nome-apelido que me deu vontade, muitas vezes, em resolver por
mudar meu nome pra esse. Porque as pessoas têm medo ou preguiça de me chamarem
pelo meu nome, que é menor, não é feio e nem muito exótico. Mas essa roupa eu
lavo outra hora. A questão é que Fernanda é muito forte pra uma cachorra de
raça fofa. Pois teve que ser. E não se contentando, a família agregou mais uma
pessoa, não cachorra, que termina com Nanda. Daí vira aquela confusão de nomes,
apelidos, prefixos, sufixos, que acaba por se dar sub nomes aos apelidos, as
pessoas, que por pouco não perdem sua identidade e seus verdadeiros nomes.
A verdade é que são tantas
Fernandas, Nandas e Fers que acaba virando uma festa. Apesar de não serem da
mesma raça, da mesma família, de não terem o mesmo sangue, são muito parecidas.
São dóceis e parecem quebrar. Ao mesmo tempo que prezam a todo custo pela
proteção dos seus. São espertas, aprendem rápido e nasceram para esperar, suportar
e se alegrar por qualquer faísca de amor. Não são tão passíveis de comparação,
mas seus olhinhos quando brilham parecem de uma só pessoa. Não brilham pela
mesma coisa, pelo mesmo ideal, pelo mesmo sentimento, mas brilham pelas mesmas
pessoas.
Não importa como foram entrar na
sua vida, se por um acaso do dia ou por uma eventualidade da vida. Provocou-se
surpresa ou medo. Os nomes têm real importância e marcam seus donos, demarcam
seus territórios, não são esquecidos por onde passam.
O melhor de tudo isso é que não
tem nada a ver em ter o dom.