quinta-feira, 22 de abril de 2010

O amor que desatina e faz doer

Um vento frio acordou minha pele. Tive a sensação de ser acordada por alguém, mas não percebi nenhuma alma perto. Meticulosamente abri os olhos, e não era um sonho. Estava realmente respirando.

Não queria pensar sobre aquilo de novo. Estou ficando chata e repetitiva. Desordenando-me mais uma vez. Meus dias turvos voltaram. Horas intermináveis. Sua imagem me derruba. Respirar, ao invés de vida, me traz a dor. Não sei não mostrar ingratidão nessas horas. O meu mato estava seco, e mato seco é combustível. E é disso que me alimento. Das suas cenas, da sua voz, das suas frases. Ouço a canção mais triste. Aliás, qualquer ritmo ou qualquer nota se faz triste.

Não quero falar sobre aquilo de novo. Deploro-me sempre que preciso te responder. Fabrico uma lágrima a cada vez que me pergunta. Meus músculos faciais paralisam a todo minuto que te ouvem. Sou um exagero, toda vez que preciso te explicar. Sua voz sempre foi minha canção de ninar, e seu cheiro meu despertar. Sonhei com você me abraçando. Um abraço apertado, suado e forte. Posso te ver com olhos fechados. Seu olhar é como um tiro. Sabe meu gosto, conhece minha forma. Vimos o sol, a chuva; o seco o molhado. Que raiva! Meus dias turvos voltaram...

Não preciso reclamar sobre isso de novo. São desejos furtivos. A sua risada sempre funciona. Seu número em minha agenda é sempre recente. Seu tom é inconfundível. Algumas letras suas me machucam. As lembranças todas me cortam a carne. A qualquer estação do ano meu coração sente aquela dor familiar. Meu amor me barra. Prende. Sufoca. Seu amor me esgota. Tortura! Sou sua sombra, e você me persegue. Enquanto tentou me agradar, eu tentei me ajustar. Consegue ver em mim encantamento. Sabe chorar, ou atuar. Só quero gritar quando eu te vejo ou te imagino em alguma foto, em algum lugar, com qualquer pessoa.

O silêncio e o escuro me incitam. Já esteve com alguém, não disse nada, e saiu sentindo que teve a melhor conversa da vida? Sim, com você é profundamente sempre isso! Teve o pior e o melhor de mim, e não soube entender. Sabemos da vida um do outro; dos piores momentos, até das melhores situações. Desfruta da minha melhor qualidade, e se deita em meu maior calo. Derreto-me de saudade. Finjo não sentir a sua falta, e me distraio com sua ausência. Estamos tão cansados. Deus sabe! Não desejamos parar, mas os sentimentos martelam. Tudo é uma harmonia de erro, nada adequado ou certo. Acostumamos a isso. Distâncias geográficas não mandam em nada! Principalmente quando há sentimentos reticentes.

Morremos quando uma coisa boa acaba. Porém, não há como classificar se o que acontece é bom ou ruim, se acabou ou se é sempre um começo. Misturamos nossas histórias. Deliciamos do proibido. ‘Loucura? Talvez, mas não mais do que aquela que vivi’. A noite não se atrasa. E o que eu sei é que meu passado não morreu, e quase não dorme.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Conflitando e aprendendo

"Se sofreu uma injustiça, console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la." (Demócrito)

Quem disse que contar alguns segundos resolve a situação, esfria os nervos, ou arrefece o estouro que está prestes a acontecer?
No meu boletim escolar carrego algumas discussões, que por alguma injustiça, não medi esforços para evitar. Lembro-me de uma situação engraçada/trágica que envolveu a psicodinâmica toda mais meus adoráveis amigos, pais, e professora. Aconteceu lá no fundamental, onde tudo é legal. Minha sala de aula era composta por um time de futebol amador. Sem reservas, sem bandeirinhas, sem treinador. Uma menina, e os patrocinadores (pais). Éramos a ameaça. Agitávamos o terrorismo nos menores, fazíamos as meninas pagarem lanche, e os professores chorarem. Num lindo dia percebemos que nossos aviões de papel não tinham turbinas, que o giz molhado não funcionava, e que tudo estava perdendo a graça. Foi aí que começamos a ofender a mãe, em total reciprocidade. Usávamos a profissão delas junto com a nossa personalidade e criávamos apelidinhos lindos/horrendos. Muito pestes, e sempre inquietos, inventamos um pra tia, a professora de ciências. Essa não gostou e nos dedurou para os patrocinadores, que nos colocaram de castigo, que resultou em NADA... Reuniões foram feitas. Até que um dia, dois comparsas mais eu fomos expulsos da sala e metidos a ficar no corredor para refletir, logo após uma intensa e quente briga com a tia. Nada que envolvesse os apelidinhos, mas por uma simples injustiça da parte dela, em não querer repetir a explicação. Afirmando que, “entendendo você ou não, essa sala é um desgosto”. Declarando altamente ser uma fã de Goethe: Prefiro uma justiça a uma desordem. Ela não soube como controlar, e se não sabe manipular, é melhor que nem ordenes! Então, partimos para a agressão- a verbal – onde tínhamos doutorado. Talvez você esteja escandalizado com tamanha atrocidade marginal da nossa/minha parte. Mas nós soubemos na infância a lutar contra as injustiças. A aquecer momentos críticos com tamanha lista de argumentos. Sem ter que disfarçar que estamos certos, ou confessar que não fizemos errado. Criamos, dentro de nós, um ninho de confiança e liberdade. Não nos tornamos corruptos ou assassinos, mas infiéis a lei do julgamento, da crítica cons(des)trutiva. Um problema? Talvez, mas não maior do que vivemos. O que faltou entender é o porquê da existência de pessoas que estabelecem suposições sendo que sequer fazem juízo. O tal do preconceito, do julgar, do arremessar pedras. Quem não ajuda que não atrapalhe! Quem não dá a mão para ajudar alguém a subir, que pelo menos não desça o pé! Entre outros jargões. Sempre me ensinaram a questionar pelos meus atos. A olhar as atitudes dos outros e entender- compreender-ajusta-las. Se não for pra apresentar mudanças, não haverá razão em xingar! Ora, não estou tencionando que sou uma injustiçada e que mereço mimos e piedade por isso. Só estou exteriorizando esse sentimento que há aqui dentro e que não há espaço para enraizar. A questão não é interpelar a injustiça, ou querer a extinção dela, mas saber como fazê-la ou interpretá-la. Porque cometê-la, não há ser humano que não o faça. Minha intenção nunca foi ser um problema social, embora minha mãe tenha me alertado a isso. Não saberia conduzir greves, estimular protestos ou começar um abaixo-assinado. Mas sei polemizar. E há tempos fazer isso não era necessário. Tudo é uma questão de escolha e conseqüência. Da ação e relação, do falar ou o olhar, do entender e aprender. Independente de motivações, critérios estabelecidos, justiça mal resolvida. De provas mal corrigidas ou de crianças mal educadas. É apenas uma luta interna... ou você estraga tudo, ou você se cala!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Solidão


Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto.

SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa alma.

(Fátima Irene)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Solilóquio

(No céu do rio Paraná, 28/03/10. )
Há semanas eu ansiava por isso. Não sei se por tanto querer, ou por não saber ao certo se queria mesmo ou não. Tufões de ansiedade e medo. Sentimentos que inebriavam-me. Alguma coisa aqui perto me dizia que era distante que encontraria a paz. Então eu me hesitei. Só então me controlei...

Uma sorridente manhã de sábado. Malas repletas de roupas. Bolsas com perfumes, xampus e bolachas. Pausas estranhas para contemplar a preocupação de não esquecer nada. O grito de pressa da mãe. Os últimos retoques no rosto, no corpo e na pele. A despedida eterna por dois dias fora. O ônibus. O pessoal. A alegria. O tchau! Aquela bagunça cor de baunilha que não irritava nem o motorista. A voz gutural do meu irmão, companheiro de poltrona. A conversa fiada. O ressonar dos mais velhos. A estrada. As cidades de antes. O sol que me levou as lembranças. A música gritada lá atrás. A saudade comprimida. A vista do rio. A altura da ponte. A insígnia que caracterizou a chegada. A expectativa do momento. A surpresa que haveria. No começo alguém parecia uma inexorável imagem, que passaria disso para palhaço no fim. A entrega das camisetas. O recolher do tempo. A acomodação. A brincadeira. A dinâmica. A sintonia. A harmonia. A renúncia. O acampamento!

À noite, ainda ouvi algum cantar de pássaro. Um cantar de grupo. Uma cantada de alguém... O lanche que satisfez, a brincadeira divertida que cansou, a música que cessou. A lua, o mato, o rio. A oração, novamente uma canção. O balanço, que me fez venerar, ainda mais, a gravidade. A garoa que vi que tocou, que nos molhou. O toque de recolher, apenas recolher... Porque dormir, NÃO FOI O CASO! Um monte de besteiras ditas sem pensar. Flores jogadas pela janela. O tempo que passava pela quantidade de palavra traduzida. A música, o sono, o sonho... Quem deu aquela buzina de gás na mão dele? O tendo que acordar e tendo que sorrir na hora que o galo nem pensava em cantar! Fingir que dormimos. Disfarçar as olheiras. Comer, beber e aproveitar!

Aspirei à paz. Aquela que, um dia atrás, alguém professou que encontraria. E então, descobri que família é uma benção, e abrange muito mais que fitas de DNA iguais. E aprendi que meus dias podem se encher de flores, de cheiros e de amores se eu assim permitir. Que a areia fina também combina com peixes de água doce, e que há transparências nos rios. Que perco gramas caminhando por elas. A sensação de soltar balões é coisa fina. Que muitas pessoas junto não significa multidão; e poucas junto não é solidão. Que há Deus nas pessoas, nos abraços e nas palavras. E que é forte! E que a saudade pode estar comprimida, mas não desaparecida. E que é impossível manter-se alegre, feliz e cantante...

Na direção do azul, é lá que olho e vem de lá o que sinto!